Profissionais da área da saúde mental e estudantes se reuniram no sábado, 24/05, na sede do CRPRS para discutir a questão da desinstitucionalização da loucura. O evento “Por onde andam as (des)institucionalizações da loucura?” contou com a participação do psicólogo Rafael Wolski, da equipe de desinstitucionalização do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP), e da psicóloga Mirela de Cintra, da Fundação de Assistência Social de Porto Alegre. O debate foi conduzido pelas conselheiras Michele Lewis e Alessandra Miron, integrantes das Comissões de Políticas Públicas e Direitos Humanos.
Rafael Wolski falou sobre o processo de desinstitucionalização que o HPSP vive, com um movimento em defesa da manutenção da instituição em oposição às conquistas da Reforma Psiquiátrica e da luta antimanicomial.
“Sempre que o Estado oferece outra possibilidade de vida para essas pessoas, elas aceitam. Precisamos ter em mente que essas pessoas não foram parar em um hospital psiquiátrico por vontade própria. A construção dos residenciais terapêuticos permitiu que os antigos moradores do HPSP passassem a ter muito mais autonomia, podendo gerenciar suas próprias vidas.”, declarou Rafael.
O desenvolvimento de um plano terapêutico singular a partir do estabelecimento de vínculo, considerando as individualidades de cada um é o melhor caminho. “Tempos que ouvir as pessoas e ver o que elas desejam. Atualmente, o Estado está trabalhando para que as pessoas que estão no São Pedro ou no Instituto Psiquiátrico Forense possam retornar a seus municípios de origem e viverem em residenciais terapêuticos que estão sendo inaugurados em diferentes cidades do Rio Grande do Sul. Mesmo para isso, é preciso escutar a vontade de cada um e ver se, realmente, querem retornar a suas cidades”.
Rafael destacou a força que alguns movimentos contrários ao processo de desinstitucionalização estão ganhando na sociedade. “Eles estão mobilizados e articulados. Precisamos nos organizar e oferecer uma resistência a isso”.
Mirela de Cintra, que atua junto a instituições de acolhimento, fez um resgate histórico de como o modelo dos abrigos foi sendo constituído e o papel que a Justiça e a sociedade atribuem a esses locais. “A sociedade sempre trabalhou com a ideia de que a criança não pode estar solta na rua e com um modelo de cuidado massifcado, não individualizado, e que buscava a docilização e “padronização” de comportamentos. A ideia de que o abrigos são instituições fechadas, totais, ainda é muito forte. Não é um local para “consertar problemas de conduta” ou “enformar” com um mesmo molde todas as crianças, como muitos pensam. Os abrigos também não podem ser um substitutivo de um atendimento em saúde mental”, afirmou.
Para Mirela, o acolhimento institucional, muitas vezes, dá conta da angústia da rede que não sabe o que fazer com crianças que estão com vínculo rompido. “Muitos acolhimentos ainda hoje inscrevem-se na linha da institucionalização, funcionando como espaços fechados sem nenhuma permeabilidade com o mundo lá fora. Ao manter a criança num confinamento, estamos adotando a mesma lógica dos hospícios”.
O evento “Por onde andam as (des)institucionalizações da loucura?” teve intervenções artísticas das militantes da luta antimanicomial, Maria Conceição de Abreu e Solange Gonçalves Luciano.
Participe das discussões
O CRPRS acredita que a desinstitucionalização é necessária para a reabilitação psicossocial, para a construção de autonomia e para o resgate de laços afetivos e sociais. As discussões sobre essa tema são abordas pelas Comissões de Políticas Públicas e Direitos Humanos.
Acompanhe a agenda de reuniões em www.crprs.org.br/comissoesegts.
Assista ao vídeo completo do evento -> http://bit.ly/1is9BGu