Na sexta-feira, 17/08, a conferência “Lugar de Fala: discutindo subjetividades e grupos sociais”, de Djamila Ribeiro, promoveu uma reflexão sobre raça, classe e gênero e como esses fatores se entrecruzam e geram opressão a determinados grupos sociais. Djamila é mestra em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo, colunista da Revista Elle, autora dos livros "O que é Lugar de Fala?", “Quem tem medo do feminismo negro?” e coordenadora da coleção Feminismos Plurais. A conferência foi mediada pela psicóloga Gláucia Fontoura, integrante do Núcleo de Relações Raciais do CRPRS.
Para Djamila, racismo, opressões de classe e machismo dividem a sociedade, colocando o homem branco no topo e a mulher branca na base. Diante disso, é necessário desconstruir alguns conceitos, repensar lugares de privilégios para mudar a realidade em que a maioria da população está apartada de acessos básicos a direitos. O alto índice de feminicídio de mulheres negras e o fato de que a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado, mostram como o racismo é ainda uma grande questão que precisa ser enfrentada por todos.
Apresentando citações de autores como Lélia Gonzales, Linda Alcoff, Bell Hooks, Frantz Fanon e Achile Mbembe, Djamila contextualizou historicamente a construção do conceito de lugar de fala. “O lugar de fala está intrinsecamente ligado à identidade de um grupo, como esse grupo é visto e pensado socialmente e como ele pode sofrer limitações em detrimento dos privilégios de outros grupos”, afirmou.
Para ela, privilégios do branco são construídos com base na opressão dos negros. “Pessoas brancas não querem se entender falando de um só lugar, querem falar de tudo, pois se pensam como universais”. Djamila mostrou como a história do Brasil está embasada em uma visão eurocêntrica. “A epistemologia dominante impõe o eurocentrismo e nega a produção de outros conhecimentos, está pautada no lugar do homem branco europeu”. A relação entre o preconceito linguístico, racismo e as questões de classe. A importância de reconhecer o legado linguístico de povos escravizados e como isso transcende a gramática normativa. A valorização de uma única forma de falar e escrever como certa a manutenção do poder em que determinados grupos são marginalizados.
Segundo a filósofa, é preciso dar visibilidade a grupos que são considerados “o outro” e lutar pela descolonização do conhecimento que dê conta de tantas linguagens. Falando diretamente às/aos psicólogo/as, Djamila ressaltou como o racismo interfere na subjetividade, como afeta a psiquê. “Pela lógica colonial, o negro não é visto como sujeito, o negro é sobredeterminado pelo exterior. Negros têm que dar respostas sobre atitudes negras, o que não acontece com brancos”.
Sobre a construção de identidades, Djamila destacou que pessoas brancas não se percebem, não se identificam como brancos, não percebem que ser branco é uma identidade, se colocam, mais uma vez, como universais. “É importante que os brancos participem do debate sobre o racismo, discutir essa questão pelo viés da branquitude, reconhecimento seus privilégios. Pessoas brancas não estão acostumadas, historicamente, a se enxergar como pessoas brancas marcadas socialmente. Quando a gente está discutindo identidades, a gente está discutindo como o poder se institui e reifica, oprime, certas identidades em detrimento de outras”.
A conferência de Djamila Ribeiro pode ser assistida acessando o Canal do YouTube do CRPRS.
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