Representantes de Instituições de Ensino Superior do Rio Grande do Sul estiveram reunidas na sede do CRPRS, em Porto Alegre, nos dias 30 e 31/08, para debater sobre as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para os cursos de graduação em Psicologia, homologadas em 2023.
Na abertura do evento, a conselheira tesoureira Maria Luiza Diello destacou o artigo 6º das DCNs, que cita entre as competências esperadas para a formação em Psicologia a capacidade de mobilizar saberes, habilidades, atitudes, bem como lidar com os fatores contextuais, e a necessidade de se revisar as propostas curriculares da formação da Psicologia, ampliando os referenciais teóricos e as dimensões éticas e estéticas, considerando as pluriversidades de existências e suas interseccionalidades. A conselheira fez um acolhimento a todas/os participantes da atividade, coordenadoras/es de cursos, professoras/es e estudantes, destacando a necessidade de contextualizar as formações com a realidade que vivemos. “As/Os estudantes precisam na formação aprender a cuidar de si e de seus afetos. Aniquilar ideia de que a formação demanda sofrimento, cansaço, exaustão e o conceito de que a educação precisa formatar as pessoas, preparar alguém para alguma coisa. Precisamos desinventar o pensamento hegemônico que sustenta posicionamentos e atitudes racistas ou LGBTQIA+fóbicas, por exemplo. Precisamos inventar outra Psicologia, divergente da que foi delimitada há 50 anos, inventar uma Psicologia para o que somos hoje.”
A mesa de abertura foi composta pelo conselheiro secretário Luis Henrique da Silva Souza; pela representante da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP) no Rio Grande do Sul, Gisele Dhein; e pela conselheira federal do Conselho Federal de Psicologia, Neuza Guareschi, que participou de forma on-line.
Gisele Dhein destacou a aproximação da ABEP com a Comissão de Formação do CRPRS para discutir desafios que tencionam a formação, como a precarização dos serviços-escolas e a necessidade de se pensar na formação considerando a realidade loco regional. A produção de conhecimento descontextualizada e, até mesmo, “mortífera para certos corpos” foi citada por Luis Henrique da Silva Souza como uma pauta sobre a qual a formação precisa se apropriar: “A Psicologia é fundamental na luta dessas injustiças”. Já Neuza Guareschi falou sobre a precarização do trabalho e os prejuízos para a formação, mencionando a Nota Técnica que está sendo produzida pelo CFP sobre a preceptoria na supervisão de estágios.
A mesa temática sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) da Psicologia foi mediada pela conselheira Eliana Sardi Bortolon, presidenta da Comissão de Formação do CRPRS, e contou com a participação presencial de Irani Tomiatto de Oliveira, conselheira presidenta da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP), e com a participação remota de Ceça Costa, coordenadora geral da Articulação Nacional de Psicólogas(ues/os) Negras(es/os) e Pesquisadoras(res) (ANPSINEP); e de Jefferson de Souza Bernardes, conselheiro do Conselho Federal de Psicologia referência para a Formação.
“Uma formação neutra, despolitizada e com práticas eurocentradas e colonizadoras não está mais de acordo com a nossa realidade. Precisamos amefricanizar a formação tornando-a diversa, descolonizada, promover uma mudança ético-estético-política e epistemológica na desconstrução do modo padrão de ensino-aprendizagem”, afirmou Ceça Costa.
Essa necessária contextualização e a atualização da formação também foram destacadas por Jefferson de Souza Bernardes. “Pensar a formação a partir de questões contemporâneas vindas dos territórios e das necessidades das populações. Vejo que um dos maiores desafios hoje com estudantes é conversar sobre democracia, reafirmar a importância do outro, que é diferente de mim e precisamos aprender a dialogar com isso”, destacou relembrando a evolução das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Psicologia.
Para Irani Tomiatto de Oliveira, apesar de todas as críticas que ainda são feitas à formação, é preciso reconhecer e sempre lembrar de todos os avanços e conquistas. “Nossa luta produz resultado, precisamos lembrar disso”. Irani resgatou a trajetória até a homologação das DCNs. “Foram 118 reuniões preparatórias, 977 propostas, cinco Encontros Regionais até o Encontro Nacional para chegar na minuta das DCNs que foi submetida a uma consulta publica. Agora, a luta é pela implementação das Diretrizes”, destacou a presidenta da ABEP citando a importância das IES investirem em pessoas preparadas para a supervisão de estágios, em uma crítica ao modelo de preceptoria para o acompanhamento dessa importante etapa da formação de novas/os profissionais.
No sábado, 31/08, pela manhã, as/os participantes se dividiram em três grupos de trabalho para debater temas fundamentais na formação e como estão postos nas novas DCNs: estágios, extensão e ênfases curriculares. À tarde, os grupos apresentaram a síntese das discussões, o que possibilitou que todas as pessoas participantes refletissem sobre cada um dos tópicos/temas. No encerramento do evento foi proposto que a Comissão de Formação organize um cronograma de trabalho para o segundo semestre de 2024, incluindo encontros virtuais para a apresentação das DCNs e um novo encontro presencial.
A atividade foi considerada um evento preparatório para os Pré-Congressos Regionais da Psicologia, que iniciam em setembro no CRPRS. Saiba mais sobre o processo em crprs.org.br/cnp.