A “Psicologia de Emergências e Desastres” foi o tema que reuniu diversas psicólogas e estudantes na sede do CRPRS, na noite de quarta-feira, 23/09, para ouvir e debater as colocações da especialista Ângela Elisabeth Coelho, professora de mestrado da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), de Campo Grande (MS). “Esta é uma psicologia que ainda estamos tentando implantar no Brasil e na América Latina”, explicou ela, que tem doutorado no tema pela Universidade de Manitoba, no Canadá. “Propomos uma atuação voltada aos desastres dentro das fases preconizadas pela Defesa Civil, bem definidas de trabalho – prevenção, preparação, resposta e reconstrução”.
Integrante do campo da Psicologia Social, esta disciplina traça o que Angela Coêlho chama de “taxonomia dos desastres”. Segundo ela, estes podem ser Naturais, ou Humanamente Induzidos. Vendavais e enchentes são um bom exemplo do primeiro tipo. Já o segundo, é subdividido em casos de Omissão (como a negligência na fiscalização de materiais de baixa qualidade usados na construção de casas, que terminam por ruir) ou Intenção (casos de terrorismo, por exemplo). Ela ensina: “Temos casos considerados de baixo ponto – como enchentes ou terremotos, que acontecem e passam; ou sem baixo ponto - aqueles que são continuados, como a seca no Nordeste ou um vazamento tóxico que continua durante anos”.
Trabalho de prevenção
“Normalmente a atuação dos psicólogos de emergências e desastres é após o acontecimento, no atendimento às vítimas, familiares, comunidades atingidas”, diz. “Mas o dado novo na América Latina é o trabalho de prevenção”. Para a professora da UCDB a prevenção deve começar já no currículo das escolas, através da educação. Mais do que isso: de modo integrado às equipes de Defesa Civil, é preciso orientar e fazer um trabalho junto às comunidades de maior risco de desastres. “Palestra não adianta”, esclarece ela. “Tem que ser oficina, roda de conversação – para também ouvir o conhecimento das pessoas, o que elas têm a dizer sobre aquilo”.
Política pública
O esforço de Angela Coêlho e outros especialistas é para colocar esta psicologia como uma política pública, a ser inserida nas grades curriculares dos cursos e com presença bem definida nas equipes de Defesa Civil, em nível federal, estadual ou municipal. “Uma diferença muito importante, sob este ponto de vista, é que não buscamos focar tanto no diagnóstico e sim nas pessoas e nas circunstâncias sociais e materiais a que elas estão submetidas, e que muitas vezes são as causas dos desastres acontecidos, e que se nada for feito poderão voltar a ocorrer”. Um desafio, conforme a professora, é inserir esta psicologia no Sistema Único de Saúde (SUS) e no Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
Questionamento
As conselheiras do CRPRS Ivarlete Guimarães de França e Neusa Guareschi, presentes ao encontro, lembraram que – frente a uma tragédia como casas construídas em encostas, que terminam por desabar com as chuvas - há um senso comum da população que praticamente “acusa” as vítimas pelo acontecido: “Mas por que foram morar logo ali, num local de risco?”, pergunta-se. Segundo Ivarlete, muitas vezes falta um auto-questionamento para poder responder à própria pergunta: “Aquelas pessoas moram ali porque são pobres e não têm condições de viver em lugares mais seguros”. Neusa complementou: “Não se pode naturalizar este tipo de situação. E as próprias autoridades não discutem esses fatos com profundidade, para não precisar aprofundar o debate sobre as desigualdades sociais e danos ambientais”.
Médio e longo prazo
Por essas e outras, na avaliação de Angela Coêlho o trabalho dos psicólogos de emergências e desastres não pode ficar limitado ao atendimento dos casos pessoais: “Muitas vezes, os problemas surgem por entraves burocráticos, e temos que estar preparados para agir também no planejamento das ações. Nossa perspectiva de ação sempre precisa ser a médio e longo prazo”.
Outras informações sobre o trabalho de Angela Coêlho pelo e-mail: coelho.angela1@gmail.com