Como parte da programação do Fórum Social Mundial, CRPRS e CRP 20 – Amazonas e Roraima promoveram, na noite de quinta-feira, 2801, a atividade on-line “De Norte a Sul do Brasil: as consequências do negacionismo na pandemia da Covid-19”, reunindo profissionais e estudantes de Psicologia de diversas regiões do país. O debate teve o objetivo de promover uma reflexão sobre a função social da Psicologia, de pensamento crítico e científico sobre a realidade atual do Brasil.
Na abertura do evento, Eliana Bortolon, conselheira presidenta da Comissão de Descentralização, responsável pela organização da atividade juntamente com os Polos, falou sobre a necessidade de articulação coletiva da Psicologia diante dos desafios impostos pela pandemia. Logo após, a presidenta do CRPRS, Ana Luiza Castro, e a presidenta do CRP 20, Lígia de Assis, deram as boas-vindas a todas/os participantes destacando a importante articulação entre os Conselhos Regionais na articulação e construção de estratégias de enfrentamento a essa realidade imposta pela Covid-19.
Maria Luiza Diello (CRP 07/08488), coordenadora do Polo Cruz Alta e trabalhadora do SUS, destacou a disparidade na vivência do cenário pandêmico em cada território. “Essa diferença regional nos faz olhar para o que há de singularidade no processo de cada território”. Para Maria Luiza, é preciso pensar o negacionismo de forma plural: “Não podemos generalizar achando que existe uma única forma de negar esse cenário. Temos o negacionismo do campo religioso, da ignorância pura, da ignorância escolhida. Há inúmeras formas de se negar essa realidade que se apresenta de forma tão dura”. Para a psicóloga, a emergência de cenários fascistas, a retomada do poder por grupos de extrema direita e as atuais crises econômica, política e social contribuíram para fortalecer essa estratégia genocida de enfretamento à pandemia, em que o Governo define quem deve morrer e quem deve viver.
Nairana Marczewski de Melo (CRP 07/22465), coordenadora de Saúde Mental de Cruz Alta, mestra em Desenvolvimento e Política Pública, trouxe alguns questionamentos: “Quantas pessoas precisam morrer para nos darmos conta de que as coisas fugiram do controle? Qual o papel de escuta das/os psicólogas/os neste momento? O que temos a contribuir como profissionais da saúde?”. Ressaltou as/os psicólogas/os devem primeiramente olhar o outro com humanidade e superar o comportamento individualista característico da sociedade capitalista. “É difícil pensar em respostas coletivas ao enfrentamento da pandemia quando se vive num momento social tão individualista. Precisamos lidar com essa sociedade capitalista em que vidas são consideradas descartáveis, lembrar que toda vida é importante. Nem sempre o que é melhor para si, para nós é o melhor para o coletivo”, ponderou. A ausência de proteção social foi citada por Nairana como outra forma de violência que vem sendo vivida por parte da população.
Na sequência da atividade, psicólogas/os da região norte do pais compartilharam suas experiências. Sebastião Diniz Neto (CRP 20/05-333), coordenador da Seção Roraima do CRP 20 que atuou na linha de frente pela Secretária de Estado da Saúde de Roraima, fez um resgate nas estratégias de enfrentamento dessa e de outras pandemias. Em sua opinião, Governos do Estado e Federal não se atentaram para alertas da epidemiologia que poderiam evitar o atual colapso. “O negaciosnimo está impactando na realidade. Nós, psicólogas/os temos que nos preparar para o pós-pandemia. O CRP 20 vem acompanhando o trabalho de grupos de psicólogas/os voluntárias/os para dar suporte para famílias que estão sendo violentadas psicologicamente. Esse trabalho poderia ser feito com a contração de profissionais e isso não foi priorizado pelo Governo”.
Alessandra Pereira (CRP 20/02065), conselheira suplente CRP-20, mestre em Psicologia e doutoranda em Educação pela UFAM, destacou em sua fala o atravessamento do colonialismo na forma de olhar para a região e como isso promove o negacionismo. “Isso é histórico, vivemos a negação de nossa raiz, nossa cultura, nossa sociedade, nossas características indígenas, caboclas, ribeirinhas. Há também uma lógica de que sempre alguém que está de fora sabe melhor da nossa realidade. Com isso, essa necropolítica praticada pelo Governo Federal encontra aqui um terreno fértil”. Na opinião de Alessandra, o impacto da religião, a influência europeia e individualista na formação das/os profissionais da Psicologia também influencia no exercício profissional. “Vemos uma conduta salvacionista, missionária, sem um olhar mais crítico. Não sabem lidar com realidade social em que se vive”. Para a conselheira do CRP 20, nesse momento de pandemia é importante pensar em uma atuação voltada para o coletivo e articulada com a realidade local. “A pandemia do novo coronavírus não instaurou um problema novo na cidade, potencializou uma problemática antiga, que já existia, na articulação de serviços e ausência de políticas públicas e de profissionais para atuar nesse Sistema”, explicou. Alessandra também reforçou a necessidade de exigir dos Governos a contratação de profissionais da Psicologia para que essa atuação não fique focada no trabalho voluntário.
Após as falas das/os convidadas/os, as/os participantes puderam compartilhar suas experiências e seus sentimentos diante do negacionismo e dos consequentes desafios para a Psicologia.
“Vivemos uma realidade muito triste, muito grave e complexa em que a Psicologia é cada vez mais convocada ao protagonismo nas políticas públicas”, complementou a conselheira do CRPRS Eliana Bortolon.