Na quinta-feira, 25/04, o Núcleo de Relações Raciais (NRR) do CRPRS promoveu mais uma edição do ciclo de debates “O Racismo Tem Dessas Coisas” abordando o tema na Educação. A atividade foi mediada pela integrante do NRR Renata da Silva.
A professora do curso de pedagogia da PUCRS Leunice Martins de Oliveira, pesquisadora do tema, destacou a origem do racismo na sua forma primordial: o etnocentrismo. “Isso é algo inerente à natureza social. O preconceito, a discriminação, a segregação – que são formas de racismo – se voltam para o extermínio do diferente e isso se deve a mitos que são ligados a conceitos errôneos sobre raça humana”. Lembrou ainda que, no Brasil, há uma pretensa democracia racial, apesar das visíveis desigualdades, e que vivemos atualmente uma nova forma de intolerância, principalmente contra os estrangeiros e imigrantes. “O racismo está presente no sistema de valores que rege a sociedade, expressando-se nas mais diferentes práticas discriminatórias, transformando a diversidade em desigualdade racial, inferiorizando e excluindo. E a escola está ligada a esse projeto de sociedade”.
Para Leunice, não há como negar que o racismo exclui, desvaloriza e mata e a escola é considerada uma arma determinante nesse processo de exclusão e destruição. “A escola não é um campo neutro. É uma instituição onde convivem conflitos e contradições raciais, étnicas e de gênero. É um espaço indispensável para que negros assumam plenamente sua cidadania”, afirmou.
A professora de séries iniciais da Rede Municipal Larisse Silva de Moraes, idealizadora e coordenadora do “Projeto Afroativos – solte o cabelo, prenda o preconceito", e o estudante Alisson Alexandre Silva da Silva apresentaram o projeto que vem sendo desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Saint Hilarie, no bairro Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre. “O projeto nasceu da necessidade de se fazer da escola um lugar melhor, já que 70% dos casos de racismo acontecem nas escolas, seundo levantamento da Organização Não Governamental (ONG) SOS Racismo”. O Afroativos é um espaço de reconhecimento da história da cultura negra e de combate ao preconceito, reunindo alunos para falar de representatividade e empoderamento. O projeto ganhou destaque e vem sendo apresentado em diferentes espaços. Uma das iniciativas do projeto, está a criação do Calendário Afroafirmativo. A ideia é apresentar, mês a mês, marcos da cultura afro e também as biografias e realizações de personalidades negras. A fala de Larisse encerrou com uma intervenção poética de Alisson, apresentando o poema “O Pequeno Príncipe Negro”.
Representando o Núcleo de Educação do CRPRS, o psicólogo Mateus Pavei Luciano, especialista em psicologia clínica, professor e supervisor no curso de especialização em clínica no Instituto Fernando Pessoa, falou sobre a importância de questionarmos onde estão os negros em diferentes espaços e na própria Psicologia. Também ressaltou a necessidade de se pensar sobre como as/os profissionais da Psicologia podem contribuir para criar espaços de discussão nas escolas, acolhendo demandas relacionadas ao racismo. “O que não é visto, não é discutido, não é falado, é negado. Na questão racial, a escola precisa acolher a demanda, pois não falar pode produzir muito mais preconceito”. Mateus reforçou a necessidade de empoderamento e destacou que isso ocorre por meio do conhecimento.
O ciclo de debates “O Racismo Tem Dessas Coisas” terá seu terceiro encontro neste ano na quinta-feira, 27/06, às 18h, e irá debater sobre o racismo na infância. Agora em maio, será realizado o evento “Descolonizar a Psicologia: contribuições para o enfrentamento ao racismo”, no sábado, 25/05. E em julho, no dia 25/07, o ciclo de debates “O racismo tem dessas coisas” tratará sobre o tema da imigração. Mais informações serão divulgadas em breve.
Assista ao vídeo com gravação do evento no Canal do YouTube.