No sábado, 18/01, o CRPRS promoveu em Capão da Canoa o evento “A Patologizacão da Infância e Adolescência e seus efeitos no uso de medicação”. Com o objetivo de dar continuidade aos eventos de orientação durante o verão, época em que psicólogas/os de diferentes cidades do estado estão no Litoral Norte, a atividade foi organizada pela Comissão de Descentralização do CRPRS em parceria com o Polo Litoral Norte e contou com a participação de psicólogas/os, estudantes de Psicologia, profissionais da Educação e Assistência Social.
Na abertura, a psicóloga Morgana Zonta, atual coordenadora do Polo Litoral Norte, falou sobre os temas já debatidos nas reuniões e eventos do grupo e convidou todas/os as/os presentes a participar. O Polo Litoral Norte foi constituído em 2017 como um espaço de debate e reflexão sobre a atividade profissional na região. Na sequência, o coordenador do Núcleo de Educação do CRPRS, conselheiro Vinícius Pasqualin fez um resgate histórico sobre como o tema da medicalização vem sendo trabalhado pelo Sistema Conselhos nos últimos anos, destacando a importância dessa discussão para o Conselho.
O médico psiquiatra Ricardo Lugon Arantes participou da atividade por vídeo. Mestre em Educação com doutorando em Psicologia Social e Institucional pela UFRGS, falou sobre sua experiência como psiquiatra no CAPSI de Novo Hamburgo e supervisor clínico institucional de Saúde Mental Infantojuvenil. Ricardo problematizou o conceito de medicalização, que não deve ser associado exclusivamente ao fazer médico. Debateu a necessidade de amplitude da política de educação inclusiva e questionou necessidade de se “desmedicalizar” as deficiências e de se “fechar diagnósticos”. “A classificação diagnóstica não deve ser o ponto de partida para uma intervenção voltada à inclusão. As intervenções devem considerar os eixos subjetivos, experimental e do corpo de cada um. Precisamos construir redes, trabalhar intersetorialmente na construção de um caminho ético de inclusão das crianças e dos adolescentes”.
A pedagoga Claudia Rodrigues de Freitas, doutora em Educação pela UFRGS, pós-doutora na área de inclusão escolar e professora na Faculdade de Educação da UFRGS apresentou como a palavra “medicalização” foi se recolocando no tempo e na história por meio de conceitos de Focault e Illich e seu conceito: um dispositivo que transforma problemas políticos, sociais e culturais em questões pessoais a serem tratadas ou medicadas. “Há um padrão que determina como o sujeito deve ser e estar na escola, como deve aprender, uma patologização dos modos de ser e de aprender. Nesse contexto, muitas vezes as escolas estão delegando à medicina a autoridade para legislar sobre problemas ou questões que poderiam ser vistos como escolares ou sociais, num claro processo de medicalização”. Para Cláudia, o diagnóstico passa a ser o nome do sujeito, seu rótulo, e isso deve ser questionado, já que a “vontade nozológica pode reduzir pessoas a diagnósticos rápidos” e um diagnóstico deve ser o resultado de um cuidadoso processo de avaliação.
Para a psicóloga Ieda Prates da Silva, psicanalista e membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA), fundadora do serviço de atendimento à criança e ao adolescente Françoise Dolto (CAPSI de Novo Hamburgo) e supervisora clinico institucional de equipes de Saúde Mental, é preciso “produzir furos”, ou seja, questionar aquilo que chega como pronto, desnaturalizar processos e conceitos, desconfiar daquilo que é óbvio e pôr em suspeição alguns saberes. “Temos que pensar em diagnósticos abertos, dar a palavra à criança ou ao adolescente. Escutá-los nos dará uma pista do que se passa, não uma certeza, algo fechado. Além disso, o diagnóstico não deve ser da criança, mas do seu entorno. É necessário um esforço para uma análise do contexto, precisamos discutir entre parceiros, conversar com equipes, profissionais que atendem à família. Nesse contexto, a escola é um lugar privilegiado pela sua natureza interdisciplinar. Quando a criança é rotulada, ela se passa como tal, essa passa a ser sua identidade, o que não é educar”.
Logo após as falas das/os convidadas/os, as/os participantes participaram do debate.
Em abril o CRPRS dará continuidade ao debate sobre esse tema no seminário “Escola contemporânea e os desafios da Psicologia e da Educação”, uma parceria com Faculdade de Educação da UFRGS, Faculdade São Francisco de Assis (UNIFIN) e Centro de Aperfeiçoamento Em Psicologia Escolar (CAPE). Em breve serão divulgadas mais informações.