No sábado, 11/05, o CRPRS promoveu, em sua sede em Porto Alegre, o evento “Desafios e estratégias na promoção da saúde nas organizações”, uma iniciativa da Comissão de Psicologia Organizacional e do Trabalho (CPOT) que lotou o auditório do Conselho.
A abertura foi feita pela conselheira presidente Silvana de Oliveira. Logo em seguida, a presidente da CPOT, conselheira Cibele Vargas Machado Moro falou sobre a importância de se buscar brechas nas organizações para que se promova a saúde do trabalhador, principalmente diante do atual momento de desmonte das políticas públicas e direitos dos trabalhadores. “Em tempos de precarização do trabalho e perda de direitos, precisamos pensar em possibilidades de atuação da Psicologia que promovam saúde nos diferentes contextos de trabalho”.
Apresentando sua experiência como psicóloga do trabalho no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Ana Luísa Poersch falou sobre a saúde do trabalhador da saúde e analisou os impactos das novas tecnologias nas relações de trabalho. “A quem tem servido a tecnologia? Temos que pensar em seu uso e nas novas relações de trabalho que agora passam a ser mediadas pela tecnologia”. Para Ana Luísa, intervir na saúde do trabalhador requer a articulação de saberes em equipe multiprofissional e ações construídas coletivamente, a partir das demandas dos próprios trabalhadores. A convidada citou algumas das estratégias trabalhadas no Hospital de Clínicas, como oficinas de prevenção à violência, acolhimento e mudança do paradigma buscando a redução do absenteísmo. “Há violências simbólicas e concretas muito presentes em nosso dia a dia. As oficinas de prevenção à violência foram importantes para capacitar multiplicadores, ou seja, pessoas de diferentes áreas que irão prevenir violência”.
O psicólogo Luciano Lorenzatto apresentou sua experiência na Empresa Brasileira de Correios, atuando na Psicologia e na Gestão. Citou a transformação pela qual os Correios precisou passar, já que a essência de sua atividade, enviar cartas, mudou e hoje a empresa está na concorrência do envio de encomendas. Como desafio destacou o elevado índice de absenteísmo, provocado por doenças osteomusculares e transtornos mentais e comportamentais; o modo de gestão taylorista, em que é preciso “tocar a carga”, a “carga tem que sair”; o discurso vigente de culpabilização do trabalhador; a insuficiente capacitação e preparação de gestores; a falta de espaços de reunião, análise do trabalho e comunicação com empregados. Para Luciano, é preciso uma atuação efetiva da Psicologia nas áreas de atividades-fim da empresa; a criação de espaços de fala e escuta para análise do trabalho, modos de gestão, organização do trabalho, implicação do trabalhador, inventividade. Além disso, citou a atuação da Psicologia em unidades operacionais, principalmente nas áreas de Tratamento e Distribuição.
À frente do Núcleo de Acompanhamento e Desenvolvimento Humano da Justiça Federal (TRF 4ª Região), a psicóloga Carolina Mousquer Lima acredita na potência do trabalhador na busca de soluções para os desafios que surgem no ambiente de trabalho. “Precisamos chamar o trabalhador para ser protagonista. Isso é saúde no ambiente de trabalho”. Para ela, a Psicologia deve ocupar espaços de gestão para promover a política de saúde do trabalhador, resistir a projetos adaptativos e retrocessos e transformar ou desacomodar a instituição. Trabalhando em uma estrutura hierarquizada e engessada, Carolina apresentou exemplos de ações da Psicologia que são importantes na promoção de saúde. “Precisamos fazer política. Falar, escutar, conectar, conciliar, reduzir danos, articular, querer saber... Como servidora pública, devo produzir cidadania, por isso é importante esse trabalho político”.
O evento foi um desdobramento do Seminário “Reforma Trabalhista: Quais os impactos na Saúde dos/as Trabalhadores/as?” ocorrido em maio de 2018.