A complexidade do trabalho das/os profissionais da Psicologia diante de situações de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes foi tema do evento “Exploração sexual para além da dicotomia vitimização-culpabilização a partir dos estudos de relações de gênero”, realizado na sexta-feira, 01/09, na sede do CRPRS em Porto Alegre. A atividade fez parte da programação do CRPRS pelo Dia da/o Psicóloga/o.
Concepções de gênero, vulnerabilidade, processos de erotização precoce são alguns aspectos sociais que precisam ser considerados nesse debate, de acordo com a psicóloga Monise Gomes Serpa, doutora em Educação pela UFRGS no núcleo de Pesquisa GEERGE (Grupo de Estudo em Educação e Sexualidade) e professora de Psicologia da UNIFRA. No evento, Monise apresentou dados levantados em sua pesquisa sobre o tema. Destacou as práticas contraditórias na sociedade, que cria leias e políticas de proteção em favor de crianças e adolescentes e promove uma erotização dos corpos infanto-juvenis em diversos contextos. “Identificamos em músicas, jogos ou propagandas a erotização do corpo infantil em que a ideia de inocência é relacionada a algo sensual”, afirmou.
Segundo dados Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as notificações de violência sexual no ano de 2011 mostram que 88,5% das vítimas eram do sexo feminino e mais da metade tinha menos de 13 anos. Além disso, 70% dos estupros vitimizaram crianças e adolescentes, sendo a maioria dos agressores homens adultos. Nesse contexto, a complexidade do tema se dá quando consideramos que, muitas vezes, a menina “entra no jogo” exercendo o que pode ser chamado de “capacidade de agência”. “Não se coloca nem como vítima nem como culpada, não aceita o termo exploração sexual. O sexo é visto, portanto, como uma via para conseguir ganhos materiais”, explicou. Nesses casos, a prática da prostituição é vista como uma forma de empoderamento e não necessariamente um modo de vitimização. A exploração sexual ganha força por ofertar a elas, por meio do consumo, um pertencimento a outro universo. Também possibilita trocas afetivas e espaços de socialização, sendo visto como algo vantajoso tanto pelo ganho financeiro como pelo valor simbólico a ele atribuído.
À/Ao psicóloga/o cabe cuidar e não revitimizar as situações de abusos e de explorações sexuais de crianças e adolescentes. A dicotomia vitimização-culpabilização engessa a análise, dificultando delimitar posições de vítima ou agressor.
O evento foi promovido pela Comissão de Direitos Humanos do CRPRS. A conselheira Priscila Pavan Detoni, presidente da Comissão, destacou a importância de dar continuidade a esse debate para orientar e fortalecer as/os psicólogas/os que atuam em serviços de proteção às crianças e adolescentes.
Toda categoria e demais interessadas/os no tema podem participar das reuniões da Comissão que acontecem quinzenalmente na sede do Conselho. A agenda pode ser acompanhada em crprs.org.br/atividades.
-> Confira outras atividades promovidas pelo CRPRS pelo Dia da/o Psicóloga/o em crprs.org.br/fazadiferenca.