O encontro preparatório da Rede de Articulação “Psicologia, Povos Indígenas, Quilombolas, de Terreiro, Tradicionais e em Luta por Território” reuniu dezenas de pessoas no auditório do CRPRS nesta sexta-feira (27/07) em Porto Alegre. Os participantes debateram questões referentes à recuperação de direitos das populações historicamente discriminadas no país, notadamente indígenas e quilombolas.
A atividade antecedeu o I ERA - Encontro Nacional da Rede de Articulação, que será realizado em setembro, em São Paulo. Psicóloga da etnia kaingang que atua na Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Alessandra Matos Marini relatou a crescente perda de identidade dos povos tradicionais e as dificuldades de tratar de saúde mental, devido às condições de “invisibilidade” destinada a populações índias.
“Como bolsista da UPF, onde me formei em Psicologia, eu era uma aluna invisível numa universidade formada em sua maioria por pessoas brancas. Então, o jovem indígena rejeita cada vez mais sua condição como alternativa de sobrevivência social”, relatou a psicóloga.
Também problematizou a noção de “felicidade” nas culturas nativas, na medida em que as diversas nações que ocupavam a terra brasileira foram incorporadas à força a um modo de vida capitalista e individualista. O resultado foi o abandono paulatino da cultura e da língua, além de um isolamento crescente entre as várias famílias que compõem uma etnia. “Como sobreviver com uma política extraoficial de extermínio? Como ser feliz nesse contexto? A saída foi desenvolver uma ideia de bem-viver indígena”, disse Alessandra.
A advogada Thaís Recoba Campodonico, que atua junto à Semear/UFRGS – Assessoria a Povos Indígenas e Comunidades Quilombolas, reforçou a noção de que os proprietários originais das terras brasileiras foram arrancados de forma violenta de seus territórios a partir da invasão europeia e da política de colonização. O mesmo mecanismo envolveu as populações negras escravizadas no Brasil a partir do século 17. “Esse processo teve um caráter devastador, cujas marcas de violência resultantes desse passado ainda estão bem presentes”, lembrou.
Thaís recomendou um esforço de construção entre Estado, sociedade e essas populações violentadas, que possa garantir cidadania política de fato a negros e índios – a Constituição de 1988 garantiu os direitos fundamentais, mas não os efetivou nem como política de Estado, nem como política de governo. “As políticas existentes, que estão em franco desmonte, só foram implementadas graças à resistência heroica desses povos”, disse a advogada, que é doutoranda em Ciências Sociais pela PUCRS.
As recomendações do encontro preparatório serão levadas ao I ERA – Encontro Nacional da Rede de Articulação: Psicologia, Povos Indígenas, Quilombolas, de Terreiro, Tradicionais e em Luta por território, que será realizado de 7 a 9 de setembro na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP).
O objetivo é promover a reflexão sobre as possibilidades de atuação da Psicologia com essas populações, compreendendo suas diversidades e os múltiplos desafios gerados pelas 0elações com a sociedade, com as instâncias governamentais e com as políticas públicas. A Rede de Articulação "Psicologia, Povos Indígenas, Quilombolas, de Terreiro, Tradicionais e em Luta por Território" tem como meta constituir uma rede de profissionais, pesquisadores, estudantes e militantes que atuam com essas populações para estreitar o diálogo entre profissionais e representantes das comunidades, bem como orientar categoria de psicólogas/os e a sociedade acerca da temática.