A violência contra as mulheres é um fenômeno crônico e estrutural em nossa sociedade, com raízes históricas e culturais, permeado pelas insterseccionalidades de raça/etnia, classe, origem, orientação sexual, diferenças sociais e outros marcadores sociais. O enfrentamento das diversas manifestações dessa violência é urgente em nosso cotidiano e a psicologia se faz presente atuando em conformidade com o código de ética profissional para a promoção de saúde e qualidade de vida das pessoas e das coletividades.
De acordo com o Relatório Técnico sobre Homicídios contra Mulheres e Adolescentes Indígenas no Brasil, desenvolvido pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em parceria com o Ministério dos Povos Indígenas, revela que casos de feminicídios de mulheres e adolescentes indígenas no Brasil aumentaram 500% entre 2003 e 2022. No total, 394 homicídios.
O feminicídio da jovem indígena Kaingang Daiane Griá Sales,14 anos, é um exemplo desse descompasso - o crime aconteceu há mais de três anos e repercutiu nacionalmente. O fato, não isolado, deu origem ao GT Guarita pela vida - Movimento das Mulheres Indígenas Kaingang da Terra Indígena Guarita que luta pelo empoderamento das mulheres indígenas através do combate à violência.
O mês de fevereiro mobilizou o GT Guarita pela vida tendo em vista a aproximação do julgamento do suspeito do crime:
No dia 10/02 aconteceu reunião pública online, organizada pelo Comitê Por Todas Daianes, composto pelas mulheres do GT Guarita pela Vida, pela campanha Nacional Levante Feminista Contra Feminicídio e pela Articulação Nacional de Mulheres Indígenas da Ancestralidade, Força Tarefa de Combate aos Feminicídios do RS (Anmiga) e outras entidades. O encontro teve a participação de deputadas e deputados federais, indígenas e não indígenas que compõem as bancadas do Cocar e de Direitos Humanos das mulheres da câmara federal. Estavam presentes, Juliana Cardoso (SP), Celia Xakriabá (MG), Paulo Guedes, (MG) Maria do Rosário (RS), Dionilso Marcos (RS) e da deputada estadual Stela Farias, além da presidenta da Funai, Joênia Wapichana e do advogado Bira Teixeira.
Para a indígena Priscila Góre Emilío Kaingang, vice-presidenta do CRPRS, as mulheres indígenas são historicamente atacadas, assim como suas raízes e cultura.
“O Brasil nasceu da violência, da dor, do choro. Infelizmente a colonização não acabou e nossos corpos territórios indígenas são constantemente atacados. Parem de nos matar! Nos deixem viver! A violência não é cultural! Esse é o grito! Tratar em 2025 sobre o feminicídio de Daiane Kaingang é para nós a resposta de tanto tempo sobre o assassinato de uma filha, irmã, parente e parte de nossa comunidade Kaingang”.
Para a vice-presidenta, a morte da jovem kaingang se tornou um símbolo de luta e justiça, além de tornar o luto e
“Ela se tornou símbolo de luta e resistência, pois seus gritos ecoam em nós como um guia para continuarmos por todas as que sofreram, sofrem ou sofrerão violência seja ela de qualquer tipo. Não estaremos todas lá dentro do Fórum, mas poderão ouvir as batidas aceleradas e as lágrimas de todas nós que estaremos do lado de fora com nossos maracás e adereços tradicionais para o ritual de acompanhamento sobre nossa parenta. Nós mulheres indígenas e lideranças esperamos a justiça! Naquela noite fria a Mãe Terra transformou nosso luto em luta e estaremos aqui vigilantes para que ninguém derrame nenhuma gota a mais do sangue das nossas meninas e mulheres indígenas. Não se mexe com nenhuma de nós e se fica impune, se pagará o ato que comete. Parem de nos matar, nos deixem viver! “.
Na quarta-feira,12/02, houveram manifestações presenciais em Tenente Portela e Coronel Bicaco. Os movimentos sociais também se mobilizam para o dia do julgamento. O crime foi a júri popular na quinta-feira dia 13/02 e encerrou na sexta-feira dia 14, na comarca de Coronel Bicaco, interior do Rio Grande do Sul. O homem condenado a 36 anos e 6 meses de prisão é um agricultor, homem branco, de 36 anos.
O Código de Ética Profissional da/o psicóloga/o em seus princípios fundamentais prevê:
I. A/o psicóloga/o baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiando nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
II. A/o psicóloga/o trabalhará visando promover a saúde e qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.