O Núcleo de Educação da Comissão de Políticas Públicas do CRPRS realizou em 19/07 o Seminário "Psicologia Educacional: Formação Profissional e Desafios da Prática", no auditório do CRPRS, em Porto Alegre. Na atividade, em que foram discutidas questões como a formação do psicólogo para a área educacional e os desafios do desenvolvimento das práticas psicológicas nas escolas, também foram apresentados relatos de experiências e resultados de pesquisa sobre a atuação da Psicologia nesse campo.
Na abertura do evento, a conselheira Rosa Veronese trouxe um breve histórico sobre a trajetória do Núcleo de Educação e a atuação que vem sendo desenvolvida. A seguir, Simone Courel, coordenadora do Núcleo da Educação, apresentou os dados coletados nos encontros regionais de educação que vêm sendo realizados pelo grupo. Simone salientou a questão da dificuldade da definição do papel do psicólogo no contexto educacional, visto que na prática acaba se reproduzindo um modelo biomédico, com foco direcionado a problemas de aprendizagem e conduta, sendo que na academia se pensa o papel social, reflexivo e preventivo na atuação. Também foi destacado o isolamento do profissional nessa área, assim como as necessidades de discussão e esclarecimento do papel junto à categoria, do desenvolvimento de referências técnicas e da troca e aproximação entre os profissionais.
A formação do psicólogo para atuar na área educacional foi o tema da mesa seguinte, com a participação da Profa. Dra. Cleci Maraschin, da UFRGS, que apresentou a caminhada da formação em psicologia e a escola como um dos braços da psicologia brasileira, e salientou a importância da análise institucional, a partir da noção de que o fracasso escolar é efeito de todo um contexto. Em sua fala, Cleci também trouxe a dicotomia entre a formação e a prática, e o impacto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996) e das Diretrizes Curriculares Nacionais (2001), com o deslocamento do conteúdo para habilidades e competências. A relação da educação com o SUS e o SUAS também foi um dos aspectos levantados, a partir das questões que estes sistemas não suprem. Outros itens apresentados foram os desafios que a Secretaria Estadual da Educação do RS atualmente se coloca, como a redução do analfabetismo, a partir da ampliação do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) e do atendimento da Educação Infantil, o monitoramento da qualidade do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, e também os modos de operação com a diversidade de culturas, a partir do questionamento das ferramentas disponíveis para auxílio aos professores.
Na mesa seguinte, foram apresentadas experiências na formação profissional do psicólogo na área educacional. Vivien Rose Böck, do Centro de Aperfeiçoamento em Psicologia Escolar (CAPE), trouxe a questão da pós-graduação em nível de especialização na área como forma de aperfeiçoamento. Eduardo Saraiva, da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), esclareceu sobre o trabalho do laboratório de pesquisas, em que os alunos desenvolvem projetos em escolas, com diagnóstico institucional, a partir da análise de professores, gestores, pais e alunos, e avaliação. A seguir, foi aberto para perguntas dos presentes e aconteceu o debate das questões levantadas.
Os desafios da prática em psicologia educacional foram o tema da fala da Profa. Dra. Marilda Facci, presidente da Associação de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) e vinculada à Universidade Estadual de Maringá (UEM), que destacou que atualmente acontece uma desvalorização do conhecimento em detrimento da prática, e que poucas universidades oferecem ênfase em Educação. A função que a escola possui de humanização dos indivíduos foi outro aspecto destacado por Marilda, em que a ciência vai desnudar a realidade para o aluno e modificar sua relação com a realidade. "Numa sociedade capitalista, em que é valorizado o que se tem e não o que se é, imagine o sofrimento de uma criança que não aprende a escrever", questionou Marilda, convidando os presentes à reflexão sobre o papel do profissional. A psicóloga também enfatizou que o principal desafio é o trabalho coletivo, junto à equipe pedagógica, atuando na relação entre professores e alunos e em busca do bem comum, e salientou a importância do referencial teórico para a atuação na área escolar.
A assessora técnica do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), Carolina dos Reis, apresentou na mesa seguinte a Pesquisa regional sobre a atuação do psicólogo educacional e as referências técnicas geradas a partir dessa coleta de dados. Carolina esclareceu o processo de pesquisa e que estas se prestam a uma reflexão ética e política das práticas em psicologia. Entre os itens observados na pesquisa, foi destacado que a demanda corresponde a atendimento clínico em conflitos pontuais, avaliação de alunos para exclusão ou desestigmatização e um processo de culpabilização do aluno. Os profissionais ouvidos na pesquisa também trouxeram questões como a convicção de que o atendimento é da área da Saúde, e não da Educação, discutiram a legitimidade da prática e também enfatizaram o trabalho realizado junto à equipe escolar, relatando conflitos e dificuldades de diálogo nas escolas, tanto relacionados a espaço de atuação como também a espaço físico para desenvolvimento do trabalho. Os psicólogos, quando questionados sobre as políticas de educação, colocaram a dificuldade de efetivação destas diante da falta de estrutura e de condições adequadas.
Após, os participantes foram divididos em grupos de trabalho para discussão de questões relacionadas à psicologia escolar. No final do evento, foram apresentados o resultados por um relator de cada grupo, seguido de debate.
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