No sábado, 29/01, o CRPRS abriu espaço para o Fórum Gaúcho de Saúde Mental (FGSM) para promover a roda de conversa sobre o espetáculo “Uma ode à Loucura. Tributo ao Roque”, dentro da programação virtual do Fórum Social das Resistências.
A atividade foi realizada a partir de um vídeo preparado pelo ator e diretor Cid Branco, da Cia Teatral V.I.D.A de Pelotas, que tem sua trajetória marcada pela militância na luta antimanicomial, homenageando o escritor Roque Jr, usuário da Rede de Atenção Psicossocial e integrante do FGSM. “Para mim, a luta antimanicomial é prioritária, unir arte e loucura nos deixa mais saudáveis. Espero que Roque, o homem da ‘incontinência literária’ tenha gostado dessa homenagem”. Ao falar se sua apresentação, Cid destacou a amplitude de sua representatividade: “O espetáculo também fala da luta do movimento negro, das mulheres que são violentadas todos os dias, de gays, lésbicas, transexuais que morrem todos os dias. Devemos lutar por uma sociedade mais igual, por uma humanidade humanamente diferente e completamente livre. Eu sou livre, mas será que sou liberto? Será que ainda não sou escravo de uma sociedade que pressiona, que impõe as coisas?”, refletiu. Em sua fala, Cid fez referência à artista Natália Leite, internada no Hospital Psiquiátrico São Pedro por 66 anos e falecida recentemente, em 25/01/2022.
Roque Jr. agradeceu a homenagem e enalteceu o teatro, como forma de arte que tem a capacidade de transformar muitas coisas. “Sempre admirei muito o teatro. Reforço o convite do Cid para fazerem parte do teatro, pois ele transforma muitas coisas da nossa existência". Para Roque, a questão do empoderamento e protagonismo do usuário é evidenciada no espetáculo, assim como em todas as ações do FGSM.
Emocionada com a celebração feita para Roque, Sandra Mara Lopes da Silva lembrou de suas tantas internações em manicômios. “Foram mais de 90 internações e hoje eu luto para que a vida do meu filho não seja igual à minha. Muitas vezes eu preciso brigar para que isso aconteça, para provar que somos capazes e podemos viver em liberdade. Tentei transformar a dor do manicômio na vida que eu tenho hoje. Lembrar que eu fui amarrada, que sofri tudo quanto é tipo de abuso me dá força para que eu não volte para lá, para que eu transforme a vida do meu filho e ele não precise colocar os pés lá”.
Maria da Conceição de Abreu, técnica de enfermagem, integrante do FGSM e militante da luta antimanicomial, resgatou como o FGSM foi constituído, no final dos anos 80, para defender os direitos dos usuários. “Fui me juntando a essas pessoas que queriam mudar aquela forma de tratar, que acreditavam que outro mundo, fora dos manicômios, era possível. As pessoas querem escolher a sua rotina, a sua comida, sair à rua, ter a chave da sua própria casa”, enfatizou.
Para Sandra Fagundes, psicóloga, ativista da saúde mental e uma das fundadoras do FGSM, precisamos lutar contra governos autoritários, que lidam com a necropolítica, estimulam o ódio e a violência, atacam as artes. “A arte nos permite ver melhor essa história, e sonhar. Ver o protagonismo de vocês hoje, ensinando e nos dando coragem para continuar, faz toda luta até aqui valer a pena. Que sejamos mais libertos no mundo!”.
O evento também contou com a presença de Rafael Wolski de Oliveira e Larissa da Silva e foi mediado pela conselheira, vice-presidenta do CRPRS, Maynar Vorga, que reforçou o quanto a Psicologia tem a aprender com a luta antimanicomial e com o Fórum Gaúcho de Saúde Mental. “Vocês nos mostram que outra sociedade é possível. A luta contra a reclusão da loucura é uma luta de todos nós, pois o manicômio só produz sofrimento, não produz nada de bom”, avaliou.
No encerramento, Cid Branco, apoiado pelas/os demais participantes, sugeriu a criação pelo CRPRS do prêmio Qorpo Santo, como uma forma de valorizar e descobrir novos talentos da saúde mental. Maynar comprometeu-se a buscar possibilidades para esse prêmio junto à administração e ao restante da gestão do CRP.
Assista à atividade na íntegra