O CRPRS participou, nesta quinta-feira, 30/09, do “II Seminário de Atenção à Saúde Mental na Infância e Adolescência”, promovido pela Diretoria da Juventude da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Juventude da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Na ocasião, o CRP foi representado pela conselheira Carla Tomasi, que destacou a urgência do tema, durante a mesa de abertura do evento.
“Precisamos entender os efeitos da pandemia agora e a longo prazo. Sabemos que as situações de depressão, autolesão e suicídio não só aumentaram, mas, também, começaram a atingir cada vez mais pessoas jovens. Vivemos o que hoje é considerada a maior crise educacional, as desigualdades sociais se agravaram e são muitos os órfãos. As/os profissionais de saúde estão sendo convocadas/os a atuar nessa realidade, lidando com o luto e as sequelas emocionais. Se crianças e adolescentes representam o futuro, sabemos que o futuro é de muito trabalho”, introduziu Carla.
Alusiva à campanha do Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio, a discussão contou com a apresentação de algumas estatísticas atuais sobre o tema, como, por exemplo:
- Cerca de 450 milhões de pessoas no mundo sofrem de transtornos psiquiátricos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
- No Brasil, a estimativa é de que 23 milhões de pessoas passam por tais problemas, sendo ao menos 5 milhões em níveis de moderado e grave.
- Todas as pessoas têm alguém do seu relacionamento próximo – familiar ou amigo – que sofre de algum transtorno psiquiátrico.
- 56% das/os trabalhadoras/es formais estão insatisfeitos com o trabalho. (G1. THAÍS HERÉDIA, 2017)
- Em todo o mundo, estima-se que mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, sofram com a depressão. (OPAS, 2018)
- 11,5 milhões de brasileiros sofrem de depressão. (OPAS, 2018)
- O Centro de Valorização da Vida (CVV) recebe de 10 a 13 mil ligações por dia.
Para Carla, os dados são ainda mais alarmantes quando relacionados à juventude. “Há um aumento de casos de suicídio na infância e na adolescência. A questão da autolesão também foi considerada como algo bastante comum ou ligada à adolescência, como uma alternativa frente à impossibilidade de colocar em palavras o sofrimento, uma forma de colocá-lo no corpo físico. Existe muito preconceito com relação ao sofrimento, ou adoecimento mental, a não aceitação, muitas vezes da própria família”, relatou.
O seminário, que contou com falas de representantes da Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (FADERGS), da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), propôs, ainda, um espaço de troca de experiências entre profissionais da área da saúde.
Segundo a psicóloga Fabiana Giguer, da FADERGS, aspectos sociais também interferem no adoecimento dos jovens e, por isso, é extremamente importante destacar, ainda, o papel do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que exerce um papel fundamental na prevenção e redução desses danos. “As violações de direitos, como violência doméstica, trabalho infantil e abuso sexual, levam as pessoas ao adoecimento. Com a criação do ECA, tivemos muitos avanços, porém, a violação não deixou de existir por causa da criação de novas leis e novas políticas públicas. Pergunto: como a/o psicóloga/o poderia atuar de modo a reduzir os danos causados pela violação de direitos?”, questionou.
Fabiana contextualizou que, a partir de 2004, com a aprovação da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e da criação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), surge a demanda de psicólogas/os como atuantes em equipes multidisciplinares destinadas ao atendimento nos níveis de proteção social. “Com isso, surge a necessidade de adaptação do fazer psicológico, com uma prática menos individualista, que se restringe, basicamente, à área clínica. O Plano Individual de Atendimento (PIA), por exemplo, prevê, em casos de acolhimento, a oferta de cuidados de qualidade, o fortalecimento da autonomia, a proteção aos direitos da criança e adolescente, considerando diversidades, especialidades e singularidades”, concluiu.