O CRPRS participou da ágora “Saúde Mental se faz com Inclusão – Debatendo a Diversidade” realizada na 12ª edição do Mental Tchê, em São Lourenço do Sul, na sexta-feira, 20/05. A conselheira Alexandra Ximendes, presidente do CRPRS, falou sobre a importância da igualdade de acesso a toda população respeitando-se singularidades. Destacou a luta da população LGBTTI (Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais) em relação a garantia de direitos e acesso a serviços de saúde. Citou a obrigatoriedade social de definição entre masculino e feminino já no registro civil como um exemplo de violência institucional que muitas vezes acaba sendo reproduzida por profissionais da saúde. “Por que precisamos nos reconhecer e nos identificarmos com uma dessas identidades (masculino ou feminino)?”, questionou Alexandra. Para ela, a heteronormatividade tem produzido sofrimento, pois essa população acaba não identificando nos serviços de saúde algo a oferecer. “Sofrem uma marginalização por conta de seu modo de viver. E, assim como a loucura que ficou marginalizada por muito tempo, essas diferentes formas de lidar com a vida ficam isoladas”.
Na ágora do Mental Tchê, outros movimentos também ressaltaram a necessidade de inclusão nas políticas de saúde mental. A assistente social Sara Jane Escouto dos Santos abordou o tema da saúde da população negra. “Muito recentemente nós, trabalhadores da saúde, começamos a olhar para o impacto que a questão ético-racial tem em nossa saúde mental. É diferente a forma como a população negra foi se constituindo no Brasil e isso produz sofrimento, não somos iguais”. Para Sara Jane, a naturalização do racismo, que tem sua origem histórica, cultural e econômica, precisa ser problematizada. “O jeito de ser e de viver da população negra é diferente de outras populações. Nossa singularidade é o que pode determinar o caminho por onde devemos ser cuidados”, afirmou.
Representando o movimento feminista, Isabel Freitas falou sobre a luta pelo sistema integral de saúde das mulheres, que não podem aceitar as opressões impostas pela sociedade, derivadas do sistema patriarcado, do racismo e do capitalismo. “Precisamos derrubar esse sistema de opressões de gênero, raça e classe no cotidiano da saúde, pensar na integralidade e articular ações em rede, dar visibilidade a violências contra a mulher, ao racismo e machismo institucional, por exemplo”.
O enfermeiro Zico Gomes da Silva, da Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, falou sobre as dificuldades da população indígena na inserção das normas do Sistema Único de Saúde (SUS). “Deveria ser o contrário, a Saúde deveria se adequar ao povo indígena, pois aqui não é meu mundo, essa não é minha cultura. Meu mundo é na minha aldeia”. Zico destacou que na universidade, por exemplo, os profissionais da saúde não estudam para lidar com o diferente e questões relacionadas à espiritualidade e à natureza, que fazem parte da cultura indígena, são ignoradas. “Os profissionais de saúde têm dificuldade em lidar com isso”.
Os participantes da ágora, que foi mediada pelo militante da luta antimanicomial Márcio Belloc, ressaltaram a importância de se pensar em espaços de educação permanente, reunindo trabalhadores, usuários e controle social e de dar destaque, cada vez mais, ao coletivo nas políticas de saúde mental.
A 12ª edição do Mental Tchê foi realizada nos dias 19 e 20/05 e reuniu mais 1.600 trabalhadores, usuários e estudantes em São Lourenço do Sul.