O CRPRS transmitiu, na última sexta-feira, 14/05, às 19h, a live “Manicômio nunca mais”, em apoio à Comissão de Saúde Mental do Conselho Municipal de Saúde de Caxias do Sul, organizadora do evento. A atividade foi alusiva ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial e teve como principal objetivo explicar por que o tema é, ainda, tão pertinente nos dias atuais.
No Brasil, o movimento está ligado à Reforma Psiquiátrica, definida pela Lei 10.216 de 2001, que dispõem por um tratamento mais humano aos usuários do Sistema de Saúde Mental. A Reforma garantiu uma rede substitutiva para os antigos manicômios, que atuavam de forma violenta, com práticas de isolamento e discriminação. Mas, ainda, é necessário ficar atenta/o para que esses novos espaços não continuem reproduzindo as mesmas lógicas manicomiais. Realidade que não é incomum de ser encontrada, mesmo nos dias de hoje, em comunidades terapêuticas e clínicas de tratamento de álcool e drogas.
A live contou com a participação de Roque Jr, escritor e membro do Fórum Gaúcho de Saúde Mental e da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (RENILA), que trouxe para a discussão suas próprias experiências como usuário do SUS. “Conheci pessoas que ficaram de 10 a 30 anos dentro dos antigos manicômios, isolados da sociedade, e hoje valorizam cada experiência de liberdade, como escovar seus próprios dentes, trabalhar, poder sair para comprar alguma coisa e etc.”, relatou.
Mediada por Débora Kieling Pavan, estudante de Psicologia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), a roda de conversa contou com mais duas convidadas/os e abriu, na noite de 14/05, um espaço de escuta e fala diante das reflexões propostas.
Para a convidada Elizabete Bertele, coordenadora do curso de Serviço Social e do curso de Especialização em Saúde Mental Coletiva da UCS, é preciso pensar na Reforma Psiquiátrica a partir de três dimensões: politico institucional, politico assistencial e politico jurídica.
“Precisamos mudar o ‘manicômio interno’ que habita em nós para que seja substituído por um cuidado em liberdade. Não basta apenas desconstruir a ideia de um manicômio como uma estrutura física, nós precisamos desconstruir as práticas que consolidam e reforçam o modelo assistencial manicomial. O modelo da reforma é de uma clínica ampliada e uma clínica ampliada pressupõem diferentes trabalhadoras/es e diferentes áreas de conhecimento”, relatou Elizabete.
“Esse sempre é um processo de luta e de discussões internas, mas, também, de muitas alianças para se conseguir chegar ao objetivo de cuidado em liberdade, onde a/o usuária/o é tratada/o como protagonista.”, comentou Márcia Fernanda de Mello Mendes, mentaleira, sanitarista e professora do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), presente na reunião também.
No campo político jurídico, Elizabete explicou que, atualmente, o Brasil tem uma política pública de saúde mental de governo e não de estado, o que possibilita que ela seja alterada a cada nova eleição, de acordo com a identidade de determinado mandatário. “Por isso que, hoje, estamos enfrentando o desafio de assegurar nossas conquistas históricas.”, frisou Elizabete ao lembrar-se da Emenda Constitucional 95/2016, que traz a questão da redução do financiamento para as políticas públicas. “Só garantimos, de fato, proteção social dentro de uma política pública, quando nós temos um aparato jurídico forte, que garanta uma política de saúde mental de estado e não de governo.”, concluiu.
A atividade foi aberta ao público e, durante a transmissão, algumas perguntas que chegaram pelo chat da live foram respondidas.
Assista à live “Manicômio nunca mais” na íntegra: