O dia das mães deve ser pensado para além da comemoração entre mães e filhos(as). Devemos, nesta data, refletir sobre o lugar que a mulher ocupa em nossa sociedade hoje e combater o determinismo social que liga às mulheres o papel de mãe, incentivado desde a infância por brincadeiras com bonecas, por exemplo. Não ter filhos não faz a mulher ser menos mulher.
A radical associação mulher = mãe precisa ser desnaturalizada, ou seja, a maternidade não é o único caminho possível às mulheres. Questões como a decisão de ter ou não filhos(as), quantos(as), parto normal ou cirúrgico, quem cuida dos(as) filhos(as) e, até mesmo, a legalização do aborto passaram a ser possíveis de ser formuladas pelas mulheres, graças ao movimento feminista iniciado no pós-guerra, trazendo ao espaço público assuntos antes reservados ao espaço privado.
Como efeito desse processo, temos o deslocamento do lugar naturalizado da mulher, de principal cuidadora, para diferentes lugares, priorizando a vida profissional, escolhendo não constituir família ou ter um relacionamento homossexual. Portanto, há infinitas possibilidades de viver como mulher.
Isso, contudo, não significa que a pauta esteja vencida, uma vez que, é ainda muito comum recair sobre a mulher as responsabilidades do cuidado dos(as) filhos(as) e da casa. Como pudemos acompanhar pela mídia, em recente manifestação, o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, Marco Feliciano (PSC/SP) – apoiado amplamente pela Frente Parlamentar Evangélica – afirma que é contra as reivindicações dos direitos das mulheres e dos(as) LGBTs porque se atendidas “podem conduzir-nos a uma sociedade homossexual”. Na equação enunciada, quando as mulheres possuem os mesmos direitos dos homens sua parcela como mãe começa a ser anulada. Seguindo essa lógica, ao não ser mãe, ou a mulher não casa ou casa com alguém do mesmo sexo. Ao liberarmos tais “instintos de homossexualidade” estaríamos, de acordo com ele, destruindo a família e criando uma sociedade de homossexuais o que tenderia a fazer a sociedade desaparecer porque não teríamos mais filhos(as). A posição do pastor e deputado evidencia ainda o forte atrelamento da mulher à reprodução e ao papel de responsável pela educação dos(as) filhos(as), baseados em preceitos moralistas e conservadores de sujeito, família e de sociedade.
Essa situação, infelizmente, não é fato isolado em nossa sociedade, por isso, o Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul reforça a necessidade de refutar o determinismo social que liga às mulheres ao lugar social de ser mãe. A maternidade é uma construção social que pode e deve ser constantemente problematizada no sentido de construir vias mais dignas e democráticas de ser mulher.
Lutiane de Lara
Conselheira do CRPRS