Debater o papel da psicologia nas emergências e desastres foi o foco da mesa Por uma Política Pública da Defesa Civil: Construindo a Conferência Nacional, que aconteceu dia 27 de janeiro, proposta pelo Conselho Federal de Psicologia. A apresentação aconteceu no início da tarde, na Delegacia Regional do Trabalho e foi um dos eventos do Sistema Conselhos dentro do 10º Fórum Social Mundial.
A primeira fala ficou por conta de Cristina Silva, mestre em Psicologia Social, que ressaltou a precariedade da comunicação entre as instituições e órgãos que compõem a Defesa Civil e o Sindec (...), como bombeiros, prefeitura, e etc. “Existe uma necessidade de políticas públicas para assistência a pessoas afetadas por catástrofes”, afirmou. Cristina defendeu, ainda, que o projeto de serviço oferecido pela Defesa Civil é estritamente ligado ao resgate das vítimas. A ênfase no fazer militar é criticada pela psicóloga que acredita na necessidade de interdisciplinar o serviço, com profissionais das áreas da Sociologia, Medicina, Militar, Engenharia, além da Psicologia. “O projeto atual não tem assistência humanitária”, completou.
Na sequência das palestras, Norma Valêncio, membro titular da Comissão de Direitos Humanos e da Comissão de Ambientalização da UFSC, contou um pouco da sua experiência e sua visão depois de pesquisas na área. Norma é a única pesquisadora de assistência humanitária do Brasil e, para efetivar seu trabalho, ela viaja para os locais onde acontecem os desastres, muitas vezes dormindo em barracas e casas. Ela começou sua apresentação questionando aos presentes “até quando nós, como povo brasileiro, com nossa diversidade, vamos naturalizar o processo de desigualdade social?”. Afirmou, ainda, que o indivíduo de uma sociedade só constrói cidadania quando é o ente ativo no direito da cidadania do outro e que o desastre não passa de um diagnóstico de falha institucional e da sociedade. Segundo a pesquisadora, há uma reincidência de acidentes e desastres nos mesmos lugares, grande parte relacionados à seca e à chuva. Essa circunstância gera uma cadeia onde as pessoas que moram nesses lugares acabam perdendo qualquer tipo de enraizamento, tornam-se nômades e migram para outros lugares em situação de miséria.
Gerson de Almeida Silva, Secretário Nacional de Articulação Social da Presidência da República, foi o último a falar. Ele falou que o governo tem se posicionado de forma que pretende romper os limites da Defesa Civil e louvou a iniciativa do CFP de propor este tema, que deve se espalhar para que aconteça a desnaturalização dos desatres.
Na segunda parte do dia, a mesa sobre Psicologia Crítica do Trabalho na Sociedade Contemporânea , contou com a presença da psicóloga e professora da UFRGS Maria da Graça Jacques, do psicólogo e professor da PUCSP Odair Furtado e do economista e professor da Mackenzie Ricardo Amorim.
A principal crítica dos palestrantes que surgiram no debate foi com relação ao padrão excludente no qual os direitos se encaixam. Maria da Graça Jacques deu uma visão bastante psicológica da questão, enfatizando a necessidade do cuidado com a saúde do trabalhador brasileiro, inclusive a saúde mental. Segundo ela, existe um número assustador de trabalhadores que utilizam psicotrópicos e é nesse momento que a psicologia entra e torna-se fundamental.