O CRPRS participou, nos dias 07 e 08 de agosto, do Encontro Gaúcho de Militantes da Reforma Psiquiátrica Antimanicomial (EGMRPA), ocorrido no teatro Dante Barone, da Assembleia Legislativa do RS, em Porto Alegre. Dessa ocasião, resultaram propostas de ação a serem executadas até agosto de 2016, quando um novo encontro estadual deve acontecer. As proposições são divididas em cinco eixos: formação da militância, produção de cuidado na lógica antimanicomial, controle social e articulação da militância na defesa da reforma psiquiátrica antimanicomial, álcool e outras drogas e cultura na lógica antimanicomial. Elas foram pensadas a partir de princípios e agenda definidos em seis pré-encontros, realizados em Arvorezinha, Caxias do Sul, Lajeado, Porto Alegre, Santa Cruz do Sul, Santa Maria. Ainda, uma carta pública foi escrita ao final do evento e em breve será disponibilizada.
O evento foi marcado também pela meta de conseguir dialogar com a sociedade. Responsáveis pela comissão de saúde mental no Conselho Estadual de Saúde (CES), a conselheira do CRPRS Cristiane Bens Pegoraro e a integrante do Fórum Gaúcho de Saúde Mental Sandra Leon destacaram a importância de adotar um discurso que faça a sociedade se enxergar como participante da luta.
A conselheira do CRPRS Mariana Allgayer destacou a importância de se formar uma militância ampla, que não seja composta apenas por profissionais envolvidos no cuidado a pessoas com sofrimento psíquico. Alexandra Ximendes, representante do CRPRS no Conselho Estadual de Saúde (CES), questionou como possibilitar mais espaços de encontro e discussão. “Além do ambiente de trabalho, que outros espaços existem para exercer a militância?”, indagou.
Resgate Histórico: A Militância Antimanicomial no RS
Referências na luta pela reforma psiquiátrica antimanicomial participaram do encontro no primeiro dia, 07/08, como Paulo Michelon, ex-usuário da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e militante do Fórum Gaúcho de Saúde Mental; Sandra Fagundes, psicóloga e ex-coordenadora de saúde mental do estado; e Marcos Rolim, consultor em segurança pública e direitos humanos, ex-deputado estadual e autor da Lei nº 9.716/1992, pioneira no Brasil, que dispõe sobre a reforma psiquiátrica no RS.
Para Paulo, hoje, a luta é pontual, pois a lei da reforma psiquiátrica já existe e está em andamento. Ele afirmou que é necessário haver gestores que executem essa reforma, mas atribuiu maior importância à articulação do movimento. “Ontem, tínhamos gestores parceiros nossos. Hoje, a gestão é contra nós. Gestão passa, e movimento social fica. Temos que articular como vai ser nossa resistência”, apontou.
Sandra Fagundes contextualizou seu envolvimento com a luta antimanicomial e afirmou que, desde o início das derrubadas de hospitais psiquiátricos, não se tratava apenas de derrubar-se muros, mas de pôr fim a muros mentais. Ela, assim como Paulo, atribuiu extrema importância à força do movimento social como legitimador das políticas executados por governos. “É muito mais tranquilo para uma gestão assinar algo com o aval de movimento social”, ponderou.
“O movimento que os militantes do encontro pretendem reconstruir tem importância histórica”, afirmou Rolim. Autor da lei pioneira no Brasil de reforma psiquiátrica antimanicomial, o consultor em segurança pública e direitos humanos se mostrou entusiasmado com a presença de novos atores no movimento, principalmente da juventude e de usuários.
Acolhida e envolvimento com a luta antimanicomial
Os participantes do EGMRPA realizaram outras atividades além de elaborar propostas de ação. À tarde e à noite de 07/08, os participantes realizaram uma acolhida na Praça Marechal Deodoro (Praça da Matriz), em frente à AL/RS. Em seguida, se dirigiram ao teatro Dante Barone e relataram seu envolvimento com a luta antimanicomial. Ainda, tanto a sexta-feira quanto o sábado foram marcados por apresentações artísticas, como dança e música.