A sede do CRPRS, em Porto Alegre, reuniu mais de 80 mulheres quilombolas do Rio Grande do Sul durante o evento “Mulheres Quilombolas e a Pluralidade de Existências”, realizado na sexta-feira, 16/08. A atividade foi organizada pelo CRPRS em parceria com a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos – (CONAQ) e a Federação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Rio Grande do Sul (FACRQ/RS) e lotou o auditório do Conselho, marcando as comemorações pelo Mês da Psicologia. “Um evento histórico, emocionante, um encontro gigantesco de guerreiras”, definiu Tereza Silva Silva, da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos – (CONAQ).
A presidenta do CRPRS, Míriam Cristiane Alves, marcou a importância desse encontro. “O que Psicologia tem a aprender com as mulheres quilombolas? Agradeço a todas mulheres que estão hoje aqui, nesse conselho de classe profissional, para falar de si e possibilitar que a Psicologia aprenda um pouco mais sobre o que é a pluriversidade de existências. Que a Psicologia possa ter na sua agenda a luta quilombola, esse é o nosso compromisso”.
A mesa de abertura contou também com a participação de Adriana de Fátima da Silva Lopes, da Federação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do RS; Regina da Silva Miranda, coordenadora Estadual de Ações de Assistência Técnica e Extensão Rural com Famílias e Comunidades Remanescentes de Quilombos da EMATER/RS – ASCAR; Sandra Figueiredo, diretora do Departamento da Igualdade Étnico-Racial da Secretaria Estadual de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos; Priscila Nunes, Representando a Diretoria de Educação para as Relações Étnico-Raciais do Departamento de Desenvolvimento Curricular da Educação Básica da Secretaria Estadual de Educação; Berenice Costa, representando o Departamento de Desenvolvimento da Educação da Secretaria Estadual de Educação; Gizane Mendina, defensora pública do Estado do RS; Sandra Maria Sales Fagundes, assessora especial do Grupo Hospitalar Conceição; e a conselheira do CRPRS Camila Dutra, presidenta da Comissão de Relações Étnicos Raciais do Conselho.
A importância do reconhecimento do direito à terra para a saúde mental; a valorização dos saberes das comunidades quilombolas; a necessidade de fortalecer redes e construir políticas públicas voltadas à população quilombola, especialmente na educação e saúde foram alguns dos pontos destacados pelas participantes. “Esse é sem dúvida um momento histórico em que nós, mulheres negras, podemos olhar nos olhos uma da outra e nos reconhecer em nossa pluralidade”, afirmou Gizane Mendina, defensora pública.
Na sequência, a Roda de Conversa “Racismo Ambiental e os impactos dos desastres sócio-político-ambientais nas comunidades quilombolas”, mediada pela psicóloga Alessandra Guedes de Araujo Dettmann, debateu sobre a organização e os desafios das comunidades, no contexto de emergências e desastres, diante da falta de acesso a políticas públicas.
Charlene da Costa Bandeira, Omobinrin Oyà, psicóloga quilombola, mestranda em Psicologia na Universidade Federal Fluminense, vinculada Laboratório de Estudos da Subjetividade e Cultura Afro-brasileira Kitembo, vice-presidente da Comunidade Remanescente Quilombola Macanudos, pertencente ao Ilé Asé Aloyá Ìfokànrán e coordenadora do Movimento Nacional dos Estudantes Quilombolas (MONEQ) e do Núcleo de Ensino e Pesquisa das Tradições de Matrizes Africanas e Afro- Brasileira ÌRÓKÒ ẸK̀ Ọ́, lembrou que em sua formação como psicóloga, a população negra só tinha lugar na patologia. “As comunidades quilombolas estão fora do ‘normal’, ‘do controle’. Essa é a mesma lógica colonialista e racista de exclusão dos loucos nos manicômios. Se não existimos, não há políticas públicas voltadas para essa população, isso inclui o acesso a políticas de recuperação após um desastre ambiental, por exemplo”.
Para Ana Léia Moraes, médica, pós-graduanda em Gestão da Qualidade em Saúde e Segurança do Paciente, membra do coletivo de saúde da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos, do GT de Saúde da População Negra de Belém, no Pará, vice-presidenta da Associação Quilombola Baixo Caeté África e Laranjituba (AQUIBAC), quando pensamos em saúde para a população quilombola precisamos pensar em garantir territórios e reconhecer os saberes tradicionais e ancestrais. “A estratégia de enfrentamento das tentativas de nos colonizar é validar nosso conhecimento na academia e promover o fortalecimento das organizações comunitárias.”