Michel Foucault, em sua obra “A História da Loucura”, apresenta a Nau dos Insensatos, uma barca que navega pelos arredores de Paris, onde eram colocados os loucos. Seu destino era ou um porto qualquer de uma cidade bem longe, ou a morte dos tripulantes em alto mar. Em uma alusão à barca louca, o Conselho Regional de Psicologia promoveu a terceira edição da Nau da Liberdade, no 10º Fórum Social Mundial. No dia 29 de janeiro, 200 pessoas estiveram a bordo do barco Cisne Branco para discutir sobre o tema da loucura, navegando pelas águas do Lago-Rio Guaíba.
A barca de Foucault mostrava a conotação de estranhamento que a loucura tinha. “Ninguém reconhece o louco como seu, porque ele é diferente”, completa a conselheira Ivarlete Guimarães de França, uma das idealizadoras do projeto. A analogia traz para os tempos atuais uma reflexão de como os usuários de saúde mental são tratados, ainda estigmatizados e, muitas vezes, excluídos. “Nós não temos mais uma barca que tira os loucos da cidade, mas temos a reclusão, que são os hospitais psiquiátricos, onde o doente mental não é visto, não é olhado por ninguém e, portanto, se ele sofre ou morre lá dentro, não é percebido pela sociedade”, enfatizou a psicóloga.
A proposta da nau foi oferecer aos doentes mentais, metade da tripulação presente, uma oportunidade de reivindicação, onde tivessem voz ativa para dizer como querem ser tratados e qual política pública de saúde mental eles necessitam. Todos deram seus depoimentos, falaram sobre a importância do FSM e manifestaram-se , reclamando o direito a sua cidadania. “O FSM tem como proposta contruir um outro mundo possível, mais democrático, igualitário e com inclusão social, tudo a ver com a proposta da nau”, contou Ivarlete.
A Nau da Liberdade foi organizada e promovida pelo Conselho Regional de Psicologia do RS em parceria com o Fórum Gaúcho de Saúde Mental. Além dos debates, oportunizou uma mobilização para a 4ª Conferência Nacional de Saúde Mental, que vai acontecer em junho de 2010, em Brasília.