No dia 21 de agosto de 2009 morre mais um agricultor sem terra, Elton Brum da Silva, em uma ação da Brigada Militar do Rio Grande do Sul ao fazer a desocupação de parte da Fazenda Southall em São Gabriel. No ato em que o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra reivindicava recursos por educação, saúde e infra-estrutura básica para sobrevivência nos assentamentos, bem como o assentamento de famílias acampadas na região, um tiro dado à queima roupa de uma arma de grosso calibre atinge diretamente o corpo de Elton em um ato simbólico que pretende calar, eliminar e tornar invísível vozes e atos de determinados setores da sociedade que lutam por direitos sociais e constitucionais.
A luta pela terra não é nova, assim como não é nova a repressão violenta contra todos e todas que lutam por justiça social. Nosso país viveu recentemente uma ditadura militar que durou 20 anos e que deixou marcas profundas em nossa sociedade, além de uma perversa herança: a impunidade, principalmente contra atos criminais cometidos pelo estado.
Felizmente no Brasil não há pena de morte formal e juridicamente instituída. Entretanto, há muitos anos assistimos a execução sumária de pessoas escolhidas como réus em função não de atos criminais realizados, mas pelo que elas são ou representam em termos de diversidade e contraditoriedade a uma “ordem” instituída com o objetivo exclusivo de fomentar o “progresso” de alguns. Consequentemente, há cada vez mais julgamentos e condenações arbitrárias, especialmente direcionada a determinados grupos sociais, tendo como trágico exemplo disto, a situação de extrema violência contra os movimentos sociais que vem ocorrendo no estado do Rio Grande do Sul, desencadeada principalmente pelo Governo e os órgãos oficiais de “Segurança Pública” deste estado. Esta sensação de que a história se repete, nos faz pensar no modo como este governo e como grande parte da mídia trata as questões sociais, ou seja, como caso de polícia, criminalizando os pobres e os movimentos sociais, cada vez que estes ameaçam a soberania totalitária deste alguns.
Neste jogo perverso, quem dita o que é verdade ou quem decide silenciar as vozes e os fatos é um grupo de mando autoritário que continua violando direitos de forma sistemática, utilizando-se de métodos típicos da política/polícia ditatorial tais como a repressão extrema, censura e eliminação, mas com a aparente diferença de que agora tenta se legitimar por eleições ou por uma parcial justiça formalizada.
Diante disso, a Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia do RS vem manifestar sua total indignação, revolta e repúdio à forma bárbara com que os movimentos sociais neste estado vem sendo tratados por este governo, culminando na trágica morte do agricultor sem terra Elton Brum da Silva. Além disso, esta Comissão manifesta sua solidariedade ao MST neste momento de profunda tristeza e indignação, reafirmando nosso compromisso com as lutas dos movimentos sociais e com todos e todas que lutam por justiça e solidariedade num mundo menos maniqueísta, violento e ditatorial.
Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia do RS