A Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul manifesta seu repúdio ao ato de violência contra o CTG Sentinela do Planalto, em Santana do Livramento. Esse ato de vandalismo está claramente ligado à celebração de um casamento coletivo no dia 13/09, em que se uniriam 29 casais, entre eles um casal de mulheres. Assim, caracterizamos tal acontecimento como um ato de violência lesbofóbica, impossível de ser ignorada ou atenuada em um estado de direito.
O CRPRS entende que o respeito à diversidade sexual se insere no rol dos direitos públicos, universais e garantidos em lei. Neste sentido, o combate à homofobia é um dos compromissos desta instituição com a sociedade, amparada a partir da Resolução CFP 001/1999, que conceitualiza as orientações sexuais e de gênero como parte da identidade dos sujeitos, e a vivência desta enquanto direito humano, se distanciando de perspectivas patológicas e de cura. Esta referenda a posição internacional sobre o tema.
Recentemente, com a resistência à tentativa parlamentar de invalidar a Resolução 001/1999, que ficou conhecido como “projeto da cura gay”, juntamente com a cassação de profissionais que ofereciam serviços de “reversão sexual”, o CFP e os CRP se mobilizaram para reafirmar o compromisso da categoria profissional com o combate à homo / lesbo / transfobia, não só dentro das práticas psicológicas, mas também no próprio convívio social.
Embora o vandalismo do CTG Sentinela do Planalto não esteja formalmente ligado aos movimentos tradicionalistas gaúchos, entendemos que existe uma relação entre este ato e as posições dos tradicionalistas da região – e da própria cultura tradicionalista – frente à diversidade sexual e de gênero. Ainda que não condenemos as práticas tradicionalistas gaúchas ou suas organizações, não podemos, enquanto profissionais psicólogas/os, deixar de questionar algumas atribuições que se mostram discriminantes e excludentes. São reconhecidas, dento desses movimentos, ocorrências de agressão contra homossexuais – como no Desfile Farroupilha de 2002, quando um cavalariço com a bandeira do movimento LGBT foi agredido fisicamente e expulso do evento. Também não é incomum que os CTGS se mostrem como ambientes de segregação em relação às pessoas LGBT, como demonstrado, por exemplo, no texto sobre “peões delicados” publicado em sites nativistas por Ademir Canabarro. Assim, também o ideal da masculinidade gaúcha tradicional enquanto necessariamente agressiva e, até mesmo, violenta, e o ideal de feminilidade delicada e passiva é perpetuada pelos movimentos, onde qualquer manifestação diferente dessas é tida como errada e “não-tradicional”. Vemos esses pontos de vista como incompatíveis com o papel cultural, social e histórico assumido pelo Movimento de Tradições Gaúchas, mantendo um ambiente hostil para pessoas LGBT e para outros homens e mulheres que não se enquadram no padrão “tradicional” de masculinidades e feminilidades.
Assim, entendemos que existem possibilidades de se pensar os tradicionalismos gaúchos enquanto um espaço de sociabilidade inclusiva e de aceitação das diferenças, sem que essa aceitação acarrete, necessariamente, o aniquilamento dessas práticas tradicionais. Enquanto psicólogas/os, compreendemos a importância de defender a pluralidade e a diversidade, enquanto crescimento individual e coletivo, e vitais na composição de uma sociedade menos opressiva e segregadora.
Comissão de Direitos Humanos do CRPRS