O CRPRS Convida, desta semana, realizou uma live sobre o agravamento da violência doméstica na pandemia da Covid-19. A atividade aconteceu na última quarta, 08/07, através do Instagram do Conselho.
Mediada pela psicóloga Luciana Fossi (CRP 07/14667), integrante da Comissão de Comunicação do CRPRS e trabalhadora do SUS em Dois Irmãos, a discussão contou com a participação da convidada Cristina Schwarz (CRP 07/17014), psicóloga e trabalhadora da Defensoria Pública Estadual do RS.
Diante dos índices de diminuição de denúncias e aumento de feminicídios – segundo a Secretaria de Segurança Pública do estado, comparado ao do ano passado, em abril de 2020, o número de casos aumentou para 66,7% – a psicóloga Cristina contextualiza a situação e explica que, com a pandemia, o cenário de exploração estrutural, que as mulheres estão sujeitas, tem se agravado. “Historicamente, as normas sociais que ditam os papeis na sociedade seguem uma ordem de poder, que é o patriarcado. No qual designa um lugar de privilégio para os homens e um papel de submissão, de exploração e denominação para as mulheres. Então, com a Covid-19, elas são ainda mais subalternizadas: no aumento das tarefas domésticas, na concentração de pessoas em casa, no cuidado das pessoas doentes e etc.”, lamenta Cristina.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) vem alertando para o aumento de índices de violências domésticas e aponta as possíveis razões: maior convivência nas relações, principalmente nas que já tinham algum fator abusivo; estresse com a crise econômica e o fato do isolamento social dificultar o acesso aos serviços de apoio.
Ontem, 08/07, foi aprovada, no Congresso, a Lei 14.022 que determina os serviços de atendimentos a situação de violência doméstica sejam essenciais. Com a nova lei, denuncias de violências domésticas com pedidos de medidas protetiva podem ser feitas todas on-line. Mas, segundo Cristina, o papel da assistência social precisa, ainda, ser melhor desenhado, neste contexto. Para a psicóloga, devem-se considerar as diferentes realidades que as mulheres se encontram, hoje, pois, por exemplo, nem todas tem acesso a Internet. “Os marcadores sociais vão determinar as experiências que mulheres vão ter com a violência.”, afirma a psicóloga.
Cristina exemplifica com o levantamento feito, antes da pandemia, pela Lei Maria da Penha sobre sua efetividade. Na pesquisa, foi percebido que os feminicídios entre mulheres brancas diminuíram, mas os entre mulheres negras aumentaram. “O direito é para todas, mas, na prática, ele se aplica e tem consequências diferentes nas vidas das mulheres. Há uma diversidade de determinantes sociais que atravessam esse fator raça-etnia e estão conjugados com as condições de vida a qual as pessoas negras estão mais expostas, principalmente, agora, com a situação do coronavírus“, completa.
A psicóloga lembra, ainda, que a Delegacia da Mulher, em Porto Alegre, fica em uma zona central da cidade e questiona: como as mulheres da periferia acessam esse espaço? “Não é uma questão apenas de distância, tem a ver com o custo do transporte, da existência ou não de um emprego para custear esse transporte; de redes de apoio, como escolas para deixar seu filho e poder chegar ao local e etc.”
Cristina ressalta que o tema de violência contra as mulheres é cada vez mais discutido na Defensoria Pública, justamente por haver muita demanda no estado do RS. “Toda essa demanda me fez reconhecer a importância de se fazer a leitura dos processos de violência de gênero em todas as nossas áreas de atuação.”, conclui a psicóloga.
Confira a live completa na íntegra: