O Núcleo de Educação da Subsede Serra promoveu em 12/08 o encontro temático "Docência: bem me quer x mal me quer. O cotidiano do professor entre o prazer e o mal estar". A atividade foi realizada no auditório do SINDSERV em Caxias do Sul.
A partir da investigação da realidade vivida no contexto educacional brasileiro atual, os participantes discutiram sobre o mal estar docente,buscando propostas de enfrentamento e destacando como a Psicologia Educacional pode contribuir nesse tema.
Para Salete Santos Anderle, psicopedagoga clínica e institucional, o mal estar dos professores é um fenômeno complexo e multifatorial que precisa ser enfrentado por meio da formação profissional continuada e do autoconhecimento. A psicopedagoga contextualizou a realidade do trabalho do professor com relação à docência, às relações institucionais, à realidade de alunos e famílias fruto das mudanças sociais após a globalização neoliberal a partir dos anos 80 e reflexões sobre o valor social do professor.
Clarissa Scherer, psicóloga e docente da Universidade de Caxias do Sul na área de Psicologia do Trabalho, discorreu sobre a Síndrome de Burnout, enfatizando que "a fragilidade do professor adoecido pode deflagrar a fragilização de seus alunos", já que esta relação é fundamental no processo ensino-aprendizagem. De acordo com Clarissa, as condições potencialmente estressoras estão relacionadas principalmente a dificuldades institucionais, horas extras, condições de trabalho do que a atividades acadêmicas específicas da docência. Dentre as várias estratégias de enfrentamento, Clarissa destacou a importância do professor não se colocar sozinho diante dos desafios.
O psicólogo clinico Otelmo Eggers, especialista em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental, apresentou sua experiência no atendimento clínico a docentes. “Expectativas, fantasias, falta de clareza de seus próprios valores, limites e possibilidades são fatores de risco para o adoecimento”, afirmou. Para ele, a empatia é inerente ao ser humano e que, infelizmente, uma das estratégias de defesa diante do sofrimento do outro é a “desumanização", o que se mostra potencialmente nocivo para o próprio sujeito também. Otelmo apontou a importância do desenvolvimento da flexibilidade psicológica e da resiliência para o enfrentamento dos desafios.
O psiquiatra Jackson Peres, que tem formação em psicanálise e psicodrama, trouxe para o debate o quanto o peso da idealização social sobre a educação recai na figura do professor e que a desilusão com os processos sociais e o isolamento levam a um sentimento de "desempoderamento” diante destas situações. Jackson ressaltou os desafios da grupalidade nos tempos atuais já que muitas vezes vivemos monólogos de vários “eus", levando ao sentimento de solidão no coletivo. Também assinalou a importância da presença do/a profissional de Psicologia nos contextos educacionais para propiciar espaços de troca, compartilhamento de sentimentos e reflexões sobre o processo educativo.
Os participantes do evento puderam apresentar experiência e esclarecer dúvidas. A coordenadora do Núcleo de Educação da Subsede Serra, Simone Courel, apresentou algumas contribuições da Psicologia Educacional com relação ao tema. Já a coordenadora do GT de Psicologia do Trabalho da Subsede, Gisele Molon, destacou as semelhanças e diferenças na atuação dentre Psicólogo Organizacional e Educacional.