Conselho Federal de Psicologia promove o seminário nacional "O Núcleo de Apoio à Saúde da Família e a Prática da Psicologia". Dias 3 e 4 de julho, em Brasília. O CRPRS estará representado pelos conselheiros Henrique Gheno Zilli e Ruben Lemke, integrantes do GT Residência Multiprofissional em Saúde.
Confira o texto de divulgação do evento.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as condições crônicas de saúde têm aumentado em ritmo acelerado em todo o mundo. No Brasil, o problema se agrava por haver uma situação social ainda marcada pela exclusão de grande parcela da população do acesso às condições mínimas de vida, tais como, alimentação, moradia, educação e trabalho dignos. Tal quadro produziu uma precarização das condições de vida e saúde e consequentemente gerou uma grande demanda de ações voltadas para a melhoria das mesmas. Concomitante, ocorrem dois novos fenômenos demográficos: declínio das taxas de natalidade e o envelhecimento da população, contribuindo para o crescimento das condições crônicas de saúde.
Esta realidade da população brasileira tem provocado, nos últimos anos, a mobilização de setores organizados da sociedade que defendem a reforma sanitária brasileira para uma mudança no modelo de atenção à saúde, saindo da lógica de investimentos prioritários em ações e serviços hospitalares e de prontoatendimento.
Os esforços passam a ser dirigidos para a “Promoção da Saúde”, que tem na atenção primária a principal articulação no enfrentamento das condições crônicas antes que venham a agudizar-se.
Ao mesmo tempo vê-se o Estado Brasileiro buscando a implementação de políticas públicas que reduzam a miséria e a fome através de projetos como, por exemplo, o Bolsa-família, um dos dispositivos do Sistema Único da Assistência Social (SUAS).
Na saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) definiu pela ampliação de investimentos na cobertura da atenção primária através da Estratégia de Saúde da Família (ESF). O modelo da ESF prevê a contratação, pelos municípios, de equipes de saúde compostas minimamente por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde para cuidar de um determinado número de famílias por território. Por sua grande complexidade, as ações dessas equipes acabaram por exigir a interferência de outros profissionais da saúde, organizando uma estrutura de apoio matricial, hoje referendada e ampliada pela portaria nº 154/08 do Ministério da Saúde que cria os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF).
Os psicólogos têm participado desde as primeiras experiências de matriciamento, especialmente no apoio e na discussão com as equipes de saúde da família sobre os cuidados aos portadores de sofrimento mental e seus familiares. Hoje, seu papel amplia-se passando a incluir em seu suporte técnico a atenção à idosos, usuários de álcool e outras drogas, jovens e mulheres vítimas de violência e outros grupos vulneráveis, sempre compartilhando seu saber com os de outros profissionais e da própria população. Entre seus diversos fazeres, várias práticas são utilizadas pelo psicólogo, entre elas, o recurso complementar da Acupuntura, quando for o caso e houver preparo profissional para tal, nas práticas integrativas e complementares contempladas na portaria.
Restam, contudo, muitas dúvidas sobre o trabalho dos NASFs e do psicólogo nesse espaço:
- A equipe dos NASFs atuará como formuladora de soluções às questões apontadas pelas equipes de saúde da família, auxiliando em sua implementação, ou atuará como uma espécie de ambulatório especializado atendendo os casos que as equipes de saúde da família não derem conta? Ou os dois?
- Como definir esses limites?
- Quais modelos de atenção nortearão as práticas em saúde nos NASFs?
- Como o NASF se articulará à rede de saúde?
- Quais as referências básicas para atuação do psicólogo nas equipes do NASF, garantindo o suporte aos portadores de
sofrimento mental e aos outros agravos que envolvem a dimensão subjetiva?
- Como enfrentar as contrações precarizadas que já se tornaram comuns nas equipes de saúde da família, ampliando-se agora para outras profissões?
- Como podemos mobilizar os psicólogos nas diversas regiões do país para, juntamente com outros profissionais que comporão os NASFs, refletirem sobre essas e outras questões, buscarem a qualificação permanente da prática, construírem diretrizes para a implementação e realização de um trabalho adequado na atenção básica?
Todas essas questões e muitas outras levaram o Conselho Federal de Psicologia e Conselhos Regionais a organizarem o Seminário Nacional sobre a participação da Psicologia nos NASFs, que acontecerá em Brasília DF, nos dias 03 e 04 de julho deste ano. O objetivo é propiciar uma reflexão inicial junto à categoria para qualificação de sua prática e o seu compromisso com políticas públicas saudáveis.
Conselho Federal de Psicologia