Na terça-feira, 29/09, às 19h, a Comissão de Relações Étnico-Raciais do CRPRS realizou mais uma edição do ciclo de debates “O racismo tem dessas coisas”, pela primeira vez no formato on-line, com o tema "20 de Setembro, outras histórias".
A atividade contou com a participação de Maurício da Silva Dorneles, licenciado em história, e da psicóloga Taiasmin Ohmacht (CRP 07/08278).
Mediada pela conselheira Roberta Gomes e pelas colaboradoras Glaucia Fontoura e Bárbara Duarte, integrantes da Comissão, a conversa tinha como objetivo trazer um novo olhar para o 20 de setembro e suas comemorações durante o mês, que são desconfortáveis para a comunidade negra gaúcha.
Convidado a participar do debate, Maurício da Silva Dorneles, licenciado em história e mestrando em educação pelo Programa de Pós Graduação da Faculdade de Educação, na UFRGS, contou a história dos negros que lutaram, pela República Rio-Grandense, durante a Revolta dos Farrapos (1835-1845). Maurício iniciou sua fala enfatizando que, mesmo o sujeito afro gaúcho sendo, na época, escravo, ele contribuía para a economia. “Sempre é preciso lembrar que o africano escravizado foi um trabalhador também, por mais que não fosse remunerado. Então, colaborava economicamente, como, por exemplo, com a mão de obra para a produção de charques.”, salientou.
Antes da metade do século XIX, explicou Maurício, o Brasil passava por várias revoltas de províncias em todo o país, causadas pelo descontentamento da centralização do poder da monarquia. Aqui no Rio Grande do Sul, o estopim para a revolta foi o aumento do imposto do charque, mas, é importante frisar que a guerra deu-se entre as elites gaúchas. “Foi uma guerra das elites e não foram todas que participaram. Então nunca trate-a como uma revolução, uma revolução promove uma mudança política, social e cultural e não foi isso que aconteceu.” Durante a guerra, as elites prometeram que, ao final do evento, dariam uma carta de alforria para aqueles escravos que aceitassem batalhar. Os escravos, então, lutaram por 10 anos e formaram, assim, os chamados Lanceiros Negros, mas nunca receberam a prometida liberdade. “Os farroupilhas carregam duas culpas: a de não ter cumprido o tratado e a de ser cumplice no Massacre de Porongos, em14 de novembro de 1844.”
Para analisar a situação, em um segundo momento, a convidada Taiasmin Ohmacht (CRP 07/08278), mestre em Psicanálise: clínica e cultura (UFRGS), escritora e membro do grupo de pesquisa Egbe: Negritude e Comum (UFRGS), expôs uma série de questionamentos que refletem as consequências de uma história mal contada pode causar. “Omitir a participação negra em um evento constantemente cantado em verso e proa no solo gaúcho, assim como nada falar do massacre, é fugir de lidar com a complexidade histórica de um país fundado em sangue negro e ameríndio.”, comentou.
Segundo Taiasmin, a exclusão da negritude na história, velada ou mascarada, corresponde, ao mito oficial da constituição do povo gaúcho: a Revolução Farroupilha. “Uma historia de traição e massacre em uma revolução tida por ideal na região sul do país.” Taiasmin lembrou que essa exclusão histórica é feita desde a escolha do que é ou não ensinado dentro da sala de aula e, para ela, mesmo com a Lei 10.639/2003, que visa incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da história e da cultura afro brasileira, o negro ainda tem sua identidade deturpada. “Se um negro para viver em um mundo ocidentalizado, de tradições europeias precisa calar ou dissimular sua cultura e história, no esforço adaptativo, qual transmissão é possível, em nível de discurso, nos lugares simbólicos?”, indagou.
Para saber mais, confira o debate completo na íntegra: