Há um ano, no dia 10 de dezembro, coincidentemente na data em que se comemora o Dia Internacional dos Direitos Humanos, quatro réus do caso Kiss eram sentenciados a cumprir entre 18 e 22 anos de prisão. O sentimento de justiça, no entanto, durou pouco. Em agosto de 2022, o julgamento foi anulado e os réus seguem impunes, gerando ainda mais sofrimento a familiares de vítimas e sobreviventes.
A impunidade causa dor e fere a humanidade de todos, além dos diretamente envolvidos, pois fragiliza a garantia de segurança e justiça que é prevista à sociedade, criando obstáculos na transmissão da memória e potencializando a dimensão traumática da tragédia. Essa potencialização torna o sofrimento continuo e incessante, debilitando a saúde mental da grande massa afetada pelo desastre.
A Psicologia mais uma vez se une a esta luta por justiça e reafirma, no dia de hoje, seu compromisso na promoção e defesa dos direitos humanos. Nesta semana teve início no CRPRS um Grupo de Trabalho que irá organizar as ações que marcarão os 10 anos do incêndio na boate Kiss, 10 anos de impunidade, firmando o compromisso da categoria ao longo de 2023 para pautar o desastre de Santa Maria em diferentes espaços, engajando ativamente na luta pela garantia dos direitos humanos e contra a omissão das ações do Estado.
(Re)conhecer a dimensão do desastre de Santa Maria em sua multiplicidade de fatores que afeta é um compromisso ético, político e de exercício da cidadania que produzem efeitos diretos na qualidade de vida e no bem estar social, tanto dos diretamente afetados quanto na construção de um futuro digno de toda sociedade.
Gabriel Rovadoschi Barros
Psicólogo, sobrevivente do incêndio na Boate Kiss, presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria - AVTSM e integrante do GT Kiss do CRPRS
Imagem: Dartanhan Baldez Figueiredo