O Centro de Referência Técnica em Políticas Públicas – Crepop realizou na terça-feira, 25/06, a devolução da pesquisa regional sobre a atuação dos psicólogos junto à população em situação de rua.
A assessora técnica do Crepop, Carolina dos Reis, apresentou os resultados regionais da pesquisa realizada em 18 municípios gaúchos. O levantamento identificou que atualmente no Rio Grande do Sul 170 psicólogos atuam junto à população em situação de rua. “Durante a pesquisa, surgiu a necessidade de mostrar aos gestores que todos estão devem estar envolvidos com a população em situação de rua. Saúde, educação, habitação, assistência social, enfim, essa população tem direito a ter acesso a todas as políticas públicas”, declarou.
Os principais questionamentos levantados pelos entrevistados versam sobre os limites éticos das intervenções, ou seja, questionamentos sobre até que ponto o Estado tem direito de intervir sobre a vida dos sujeitos; a invisibilidade da população que vive em situação de rua; a necessidade de burocratização dos serviços; construção de critérios que impedem o acesso aos serviços; a herança assistencialista e policialesca na Assistência Social.
A pesquisa também identificou que há a necessidade de fortalecimento das políticas de redução de dano, o aprimoramento das relações inter e intra-setorial, o enfrentamento da lógica moralista e discriminatória, a desburocratização dos serviços para que se ofereça um acolhimento efetivo, o fortalecimento dos movimentos sociais da população em situação de rua.
Convidado a participar da atividade, o psicólogo Manoel Mayer, que atua no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Florianópolis, falou sobre a necessidade de se respeitar políticas que emergem das ruas para promover o enfrentamento de ações repressores. “É importante fortalecer o trabalho em equipe, promover reuniões de rede e resgatar fatos históricos que estão por trás dos métodos e conceitos adotados pelo Estado e pelos próprios trabalhadores na atualidade. Precisamos buscar dimensões conceituais para enxergar a realidade de forma diferente”, afirmou Manoel. Para ele, o problema que vivenciamos agora, por exemplo, com práticas de ‘higienismo social’ em função dos preparativos para a Copa do Mundo, por exemplo, retoma um processo muito antigo.
O coordenador do Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua (Centro Pop) de Porto Alegre, Carlos André Bittencourt, propôs uma reflexão sobre alguns aspectos que permeiam o trabalho junto à população de rua. “Para avançar, temos que pensar que Estado queremos? Queremos construir um Estado segregador, que afasta dos olhos da sociedade e dos grandes centros urbanos essa população?”, questionou. Para ele, os profissionais que estão atuando neste campo devem fazer o enfrentamento a esta lógica assistencialista e higienista de afastar dos grandes centros urbanos essa parcela da população que não é bem-vinda.
A pesquisa do Crepop iniciada em 2012 tem como objetivo construir coletivamente as referências técnicas para uma competente atuação profissional nas políticas públicas brasileiras. A etapa regional de coleta e organização das informações já foi concluída. O Rio Grande do Sul foi um dos poucos estados a dar voz aos usuários, reunindo em alguns encontros promovidos para a pesquisa pessoas em situação de rua.
O material segue, agora, sendo trabalhado nacionalmente para a formatação do documento de referências técnicas que deve ser lançado em 2014.
* Confira os vídeos -> http://bit.ly/19SxVlw