A Polícia Federal (PF) cumpriu, na tarde de sexta-feira, 15/04, mandado judicial de reintegração de posse para a retirada dos militantes que ocupavam a sala da Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do Ministério da Saúde, em Brasília – a Ocupação Fora Valencius.
Realizada por entidades e militantes da Luta Antimanicomial, usuários e funcionários do sistema público de saúde, a ocupação reivindicava a exoneração do coordenador de Saúde Mental, o psiquiatra Valencius Wurch, indicado em dezembro pelo ministro da Saúde, Marcelo Castro. Wurch foi diretor técnico da Casa de Saúde Dr. Eiras, no Rio de Janeiro, considerado o maior hospital psiquiátrico de administração privada da América Latina. Os militantes entendem que o gestor é defensor do sistema de manicômios.
Cerca de 15 militantes ocupavam a sala durante a ação da PF. Na saída, os militantes declararam que continuam em oposição e organizados pela causa. Disseram que os dias de resistência fortaleceram o movimento e que, após avaliação da Ocupação, irão planejar novas ações. Ao todo, foram 123 dias de ocupação na sala do Ministério da Saúde.
Sem diálogo
Para a representante do Conselho Federal de Psicologia (CFP) no Conselho Nacional de Saúde (CNS), Semíramis Vedovatto, a medida demonstra a falta de vontade de diálogo por parte da Coordenação. “Mostra bem o perfil do coordenador de Saúde Mental, que é manicomial, truculento e não aberto ao diálogo, desrespeitando qualquer forma de diálogo com o movimento”, disse, em entrevista no local da desocupação. Semíramis coordena a Comissão Intersetorial de Saúde Mental (Cism) do CNS.
Ela destacou, ainda, que o pedido de reintegração de posse demonstra que a ocupação estava correta, que as políticas de saúde mental estão paradas, o que contraria entrevista dada por Wurch para a Folha de S. Paulo em que o gestor se declarou contra os manicômios e disse estar aberto para a interlocução.
A representante do CFP disse que o movimento continuará, também, em instâncias como a Frente Parlamentar da Luta Antimanicomial, recém-lançada na Câmara dos Deputados, e em comissões intersetoriais do governo federal. “Nós vamos enfrentar uma longa batalha e vai continuar. Só vamos mudar o cenário. Parabéns aos bravos ocupantes que conseguiram permanecer aqui e saíram com dignidade”, comentou.