Mais de 20 psicólogas/os participaram na quarta-feira (18/04) da criação oficial do Polo Região Celeiro, com sede no município de Três Passos e que abrange cidades vizinhas como Tenente Portela, Crissiumal, Esperança do Sul, Boa Vista do Buricá, Redentora, Três de Maio, entre outras.
A reunião, que teve a presença do conselheiro Silvio Iensen e do coordenador da Área Técnica do CRPRS, Lucio Garcia, debateu a ética no exercício profissional e teve uma intensa participação das/os profissionais presentes. O encontro foi coordenado pela psicóloga Graciela Lauermann, coordenadora do Polo Região Celeiro do CRPRS. A secretária municipal da saúde de Três Passos, Maria Adelaide, prestigiou o evento.
O conselheiro Sílvio Iensen, presidente da Comissão de Ética do CRPRS, explicou a política de descentralização do Conselho e a importância de expandir os canais de representação da categoria junto à sede, nas mais diferentes regiões do Estado. “A ideia é estarmos cada vez mais próximos uns dos outros, de modo que as demandas regionais possam ser plenamente atendidas”, justificou.
Sílvio informou que a Comissão de Ética vai se reunir, a partir de maio, com professores de disciplinas de ética profissional das faculdades de Psicologia do Rio Grande do Sul. “Muitas universidades trabalham com o conceito filosófico de ética, quando a disciplina deveria abordar questões referentes ao exercício profissional. O resultado é que muitos alunos se formam sem saber a cor do caderninho do nosso Código de Ética”, ironizou.
Segundo Sílvio, a atual gestão do CRPRS tem uma preocupação muito grande com o compromisso ético-político das/os profissionais. “Temos que ser éticos durante nossa atuação. Para sermos éticos, temos que ser eminentemente técnicos”, explicou. Também salientou que o papel do Conselho é defender a sociedade e, dentro desse contexto, proteger a profissão de práticas não regulamentadas – terapias alternativas sem respaldo científico e, portanto, que oferecem risco às/aos pacientes.
“O surgimento de mágicos, de gurus e de bruxos que oferecem as mais diferentes terapias nos assusta muito. Em 1905 Freud já alertava sobre a existência dos médicos da moda, que usam técnicas de sedução para convencer as pessoas sobre os benefícios da sua terapia. É bom lembrar que psicólogas/os não podem prometer nenhum tipo de cura”, afirmou.
O conselheiro também estimulou as profissionais da região a participarem das atividades do Polo. “Vocês é que farão essa estrutura andar”, disse.
O psicólogo Lucio Fernando Garcia, coordenador da Área Técnica do CRPRS, explicou a legislação que cria o Sistema Conselhos de Psicologia e que regulamenta a profissão de psicóloga/o, além de incluí-la como atividade da saúde. “O campo da saúde é público, é interesse do Estado, é estratégico para a sociedade”, disse.
Lucio explicou também a sistemática de fiscalização do Conselho e vinculou essa atuação à defesa do bem-estar da sociedade, na medida em que o exercício ilegal e sem técnicas reconhecidas cientificamente é uma ameaça à saúde pública. “Agora vocês fazem parte desse sistema. Ou seja, estão aptos a desenvolver e a fiscalizar o exercício profissional”, afirmou.
Também alertou para a crescente judicialização das relações sociais e familiares, que envolvem, também de forma crescente, a participação de psicólogas/os na solução de conflitos mediados nesse âmbito. E lembrou que a produção de documentos é um dado essencial, que precisa ser “dominado” pelas/os profissionais. “Defendam e ponham em prática a sua autônomia profissional e a ciência psicológica. Mas, para isso, tenham conhecimento adequado sobre seus limites e alcances”, disse.
O encontro abordou também a relação entre o exercício profissional da Psicologia e as terapias integrativas e complementares que, desde 2016, são reconhecidas pelo SUS. O psicólogo fiscal Lucio Garcia leu uma lista de terapias integrativas reconhecidas e perguntou às participantes quais delas tinham abordado algum desses conteúdos na graduação. O resultado foi surpreendente: dos itens citados, todos oferecidos pelo SUS, apenas um havia sido tema de disciplina para uma aluna.
“O Conselho não está aqui para fazer uma caça às bruxas. Mas não é o SUS que deve pautar a profissão. Eu questiono: quantas dessas práticas foram estudadas na universidade? Em quantas delas estamos devidamente treinados? Quais são os riscos?”, advertiu. “Devemos nos ater ao que sabemos”, recomendou.