Cerca de 170 profissionais e estudantes estiveram presentes no seminário [b]Medicalização e Educação: Pensando sobre a Realidade Atual[/b], ocorrido no último sábado (23) na Universidade de Caxias do Sul. O evento, promovido pelo Grupo de Trabalho da Educação do CRPRS – Subsede Serra, contou com as palestras da psicanalista Elisabeth Guarnier, da neuropediatra Nádia Ordovaz, da psicóloga Marilene Proença e da educadora Nilda Stecanela.
Estiveram presentes no evento a Conselheira Presidente do CRPRS Vera Lúcia Pasini, a Conselheira Tesoureira Alexandra Ximendes e a Conselheira e Coordenadora do GT Educação Rosa Veronese. A Conselheira Presidente reforçou a importância dos debates promovidos no seminário: “A discussão sobre a educação no contemporâneo é fundamental, e a Psicologia tem muito a contribuir para este campo. A medicalização na educação é uma forma de conter os efeitos dos problemas de aprendizagem, mas não um esforço efetivo para entender o problema”.
A Conselheira Rosa Veronese chamou a atenção para as contribuições que a Psicologia pode oferecer ao campo da educação. “A Psicologia, enquanto ciência e profissão, tem um espaço na construção da cidadania, com compromisso e responsabilidade social. Pensar a Psicologia na educação é auxiliar na construção da inclusão social neste campo”, salientou.
Colaboraram para a realização do evento a Conselheira Elisabeth Machado, as psicólogas Simone Fragoso Courel, Marlete Susin Rodrigues, Simone Muller Cardoso, Iria Jacoby Oliveira, Viviane da Costa Pinheiro e a estudante de Psicologia Mônica Fernanda Neukamp Wille.
[b]Inclusão na educação[/b] – A educadora Nilda Stecanela traçou um panorama da situação escolar no país, chamando a atenção para a contradição entre a ampliação do acesso à educação e o enfraquecimento da escola enquanto instituição. “O problema da inclusão de crianças e adolescentes na escola não está na insuficiência de vagas, mas no caráter precário dessa inclusão. A escola precisa se reinventar, de forma a se adaptar ao contexto sociocultural em que vivemos”, ressaltou.
A distância entre o espaço escolar e o cotidiano dos alunos foi criticada pela educadora: “A forma escolar clássica, advinda da Revolução Industrial e reforçada pelo [i]fordismo[/i], não atende mais às expectativas dos sujeitos que fazem parte dela. Em vez de homogeneizar os alunos, a escola precisa se tornar mais heterogênea e plural, na qual novos modelos, espaços, atores e dinâmicas se desenvolvem em seu espaço”.
[b]Sofrimento psíquico na infância[/b] – O desenvolvimento do aparelho psíquico humano e das formas possíveis de intervenção foram explorados pela psicanalista Elisabeth Guarnier. A especialista ressaltou que o desenvolvimento da inteligência não depende apenas de fatores genéticos. “Podemos dizer que toda criança é potencialmente inteligente, mas o uso desse potencial fica sob condição de que o sujeito possa constituir-se em algo além do mundo neuronal”, explicou.
A especialista ressaltou a necessidade da ampliação da psicanálise para se poder pensar em uma psicopatologia infantil: “Alguns tipos de casos não eram tão vivenciados antigamente, e nesse sentido a psicanálise precisa ser ampliada para se tornar um instrumento capaz de dar conta dessas patologias, como os transtornos de aprendizagem”.
[b]Seriedade nos diagnósticos[/b] – A neuropediatra Nádia Ordovaz apresentou a perspectiva da medicina sobre os transtornos de aprendizagem. “Quando a dificuldade de aprendizagem tem um fundo orgânico, a medicação é imprescindível. Questões genéticas, dificuldades na gravidez, traumatismo, epilepsia, são diversos os problemas que podem implicar em um transtorno de aprendizagem”, explicou.
A profissional alertou sobre a importância da seriedade nos diagnósticos e criticou a prescrição indiscriminada de medicamentos: “É fundamental que se possa identificar a diferença entre um quadro de fundo orgânico de um quadro de fundo emocional, para que se possa saber se um caso tem uma explicação neurológica ou não. O bom senso do profissional é de suma importância”.
[b]Perspectivas da Psicologia Escolar[/b] – A psicóloga Marilene Proença, que atua na Psicologia Escolar, apresentou dados alarmantes sobre o consumo de medicamentos para o tratamento de transtornos de aprendizagem. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos (IDUM), em 8 anos foi registrado um aumento expressivo na venda da Ritalina, um dos medicamentos usados no tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH): de 71 mil caixas do remédio vendidas em 2000 para 1 milhão e 147 mil caixas vendidas em 2008.
“A responsabilidade da falta de aprendizagem está sendo colocada sobre a criança e o seu organismo”, criticou a psicóloga. Marilene lembrou que a Psicologia no campo da educação tem desenvolvido uma série de teorias e práticas que mostram que as dificuldades de aprendizagem são construídas no processo de escolarização. “Em vez da medicalização indiscriminada, precisamos pensar que a criança com dificuldades deve ser compreendida na sua relação com o contexto escolar”, afirmou.