As cinco teses da área da psicologia relativas à mídia e seus efeitos sobre a sociedade brasileira contemporânea, já referendadas pela Plenária do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), foram apresentadas na manhã desta quarta-feira, 21/10, pela assessora de imprensa do CRPRS, Liliana Rauber, na Conferência Livre de Comunicação “Meios para construção de direitos e de cidadania na era digital”. O evento foi realizado na Casa dos Bancários, em Porto Alegre, com quatro mesas de debate, formação de grupos de trabalho e plenária final.
A Conferência Livre foi preparatória à etapa estadual da Conferência Nacional de Comunicação, a acontecer nos próximos dias 03 e 04 de novembro, no Auditório Dante Barone, da Assembleia Legislativa.
Os temas
A jornalista do CRPRS citou os temas de especial interesse e preocupação da área, a serem debatidas na Confecon, em Brasília, em dezembro próximo:
Controle social da mídia (entendido como controle público dos meios de comunicação); fim da publicidade dirigida às crianças; fim da publicidade de bebidas alcoólicas; trânsito e mobilidade (propaganda de veículos com incentivo à velocidade); e o fim da exploração da imagem da mulher, do homem, da criança e do adolescente pela mídia.
Baixa autoestima
A abordagem dos temas provocou comentários da platéia, que reconheceu os danos causados à sociedade nesta construção de subjetividades e demandas artificiais, provocadas por apelos comerciais danosos e conteúdos irresponsáveis. Um pequeno vídeo exibido pela representante do Conselho Regional de Psicologia provocou emoção nos participantes, ao verem como crianças negras recusavam bonecas representando bebês negros como elas, preferindo e achando “mais bonitas” as bonecas brancas e de olhos azuis. O vídeo, na avalição dos presentes, foi uma demonstração de como a construção de determinados estereótipos pela TV e publicidade termina por causar danos à auto-estima de todas as pessoas que não se enquadram na imagem promovida pela mídia.
Xuxa fora dos EUA
Uma das falas mais aplaudidas foi a do professor da UFRGS e teórico das comunicações Pedrinho Guareschi. Ele lembrou que todos os países desenvolvidos possuem instrumentos de controle dos meios de comunicação – e que na própria América Latina isto vem sendo implantado, como o recente caso da Argentina, por iniciativa do poder executivo. “Podemos citar que nos Estados Unidos, tido como a terra do total liberalismo, o programa da Xuxa, por exemplo, não foi aceito, pois mistura programação voltada às crianças e apelo comercial”, relatou. Mais ainda: “Comunicação de qualidade é direito básico, tem que entrar na ‘cesta básica” do brasileiro”, afirmou, com bom humor.
Sem autoritarismo
Em todo caso, respondendo a algumas questões do público participante, Guareschi deixou claro que “não podemos cair num padrão autoritário de decisão de cima para baixo, se isto é válido ou não”. Para ele, o importante é fazer com que a população construa o seu projeto de comunicação para o país. “O que não é possível é termos só uma verdade, um discurso único – apenas o Arnaldo Jabor, por exemplo, fazendo a interpretação de um fato marcante no telejornal. Na BBC, considerada a melhor emissora do mundo, cada notícia dura cerca de seis minutos, e abre espaço para mais de uma opinião, para que o espectador consiga ponderar os diversos pontos de vista e formar o seu”, disse o professor.
Quatro mesas
As quatro mesas da Conferência Livre foram “O Desafio das Mudanças nas Comunicações no Brasil e América Latina”; “O direito à Comunicação – parte 1 – Propostas”; “O direito à Comunicação – parte 2 - Propostas”; e “Novas Tecnologias”. O superintendete de Comunicação da Assembléia Legislativa/RS, Celso Schroeder, fez uma palestra sobre a 1ª Confecon, e par parte da tarde três grupos de trabalho discutiram “Produção de Conteúdo; Meios de Distribuição; e Cidadania: Direitos e Deveres”.
Além dos já citados, também participaram da Conferência Livre representantes do Sindicato dos Jornalistas/RS, CUT Estadual, Abraço-RS, Sintrajufe-RS, SindBancários, MST, entre outras entidades, assim como os deputados estaduais Raul Pont e Raul Carrion.