O Conselho Federal de Psicologia (CFP) realizou no dia 21 de novembro a cerimônia de congratulação do Prêmio Profissional Virgínia Bicudo, que reconhece iniciativas antirracistas no campo da Psicologia voltadas à promoção da igualdade racial. A atividade ocorreu durante o Seminário “Resistências Brasis: Relações Étnico-Raciais e o Fazer Psicológico”, na sede do CFP, em Brasília/DF.
Em sua segunda edição, o prêmio foi dividido em duas categorias: experiências individuais, voltadas a ações promovidas por psicólogos e psicólogas, e experiências coletivas, destinadas a grupos e organizações. Ao todo, foram avaliados 27 trabalhos: seis deles premiados e quatro receberam menções honrosas. Os eixos orientadores variaram entre temas como raça e identidade étnico-racial, violência, modos de resistência e racismo intergeracional.
O presidente do CFP, Pedro Paulo Bicalho, destacou que o Prêmio Virgínia Bicudo representa um estímulo a toda a Psicologia brasileira, composta por mais de 548 mil profissionais. “Queremos que este prêmio inspire novas práticas e que se torne parte de um calendário de premiações consolidado na Psicologia brasileira”, declarou. Ele enfatizou ainda a necessidade de garantir diversidade territorial entre os trabalhos inscritos, reforçando o compromisso com uma representação nacional inclusiva.
O prêmio Virgínia Bicudo também dialoga com outras iniciativas recentes, como o Prêmio João W. Nery e o Prêmio Sylvia Leser de Mello, que abordam práticas profissionais inovadoras em Psicologia. Para Bicalho, o legado de Virgínia Bicudo, assim como de outros nomes da Psicologia, se traduz em sementes para práticas transformadoras. “Virgínia deixou um caminho visível e concreto para que outras gestões continuem a construir novos prêmios e ações,” afirmou.
Para a vice-presidenta do CFP, Alessandra Almeida, coordenadora desta edição da premiação, a iniciativa foi pensada como uma ferramenta de reparação histórica, que fortalece o papel da Psicologia no enfrentamento do racismo, ao garantir uma ciência e profissão que se reconheça e se proponha a ser antirracista. “A prática política da Psicologia brasileira é diversa nos corpos que a produzem. Isso, para nós, é fundamental”.
A Comissão Nacional de Direitos Humanos do CFP (CDH/CFP), idealizadora do prêmio, participou ativamente no processo de avaliação dos trabalhos. A atual coordenadora da CDH/CFP, Andreza Costa, reforçou o papel das instituições em reconhecer os saberes de comunidades históricas. “Não é que os líderes quilombolas ou indígenas precisem dessa validação, mas as instituições têm a responsabilidade de reconhecer e reparar historicamente,” afirmou. Para Andreza, o Prêmio Virgínia Bicudo é uma iniciativa que destaca a Psicologia como ferramenta de resistência e transformação social, alinhando práticas inovadoras com uma postura antirracista.
Confira a galeria de imagens da premiação.
Conheça todos os trabalhos premiados e os contemplados com menção honrosa:
Trabalhos Premiados
– Eixo: Raças e Identidade Étnico-Racial
Título: PORQUÊ TEM CORES DIFERENTES: Práticas Educativas e a Constituição da Identidade/Subjetividade da Criança Negra
Autora Principal: Janaina Cassiano Silva
Autores: Rafaela Renero dos Santos
Região: Centro-Oeste
– Eixo: Modos de Resistência Antirracista: Antimanicomial, Cultural, Religioso
Título: Aquilombamento como Experiência Terapêutica entre Estudantes Universitários(as) Negros(as)
Autor Principal: Thiago da Silva Laurentino
Autores: Mayara Cristina Alves da Silva, Elaine Jéssica de Souza Lira, Mariana Moreira Costa do Carmo, Wesley Ribeiro Costa Meneses, Viviane Aline Marcolino De Lima
Região: Nordeste
– Eixo: Raças e Identidade Étnico-Racial
Título: Narrativas Ancestrais como Dispositivos em Saúde Mental: Diálogos em Pretuguês com Iyá, Lélia Gonzalez
Autora Principal: Tess Rafaella Lobato de Oliveira
Região: Norte
– Eixo: Raças e Identidade Étnico-Racial
Título: Relatos de Experiências em Psicologia e Relações Raciais no Sudeste Maranhense: e o Etno Esporte
Autor Principal: Fábio José Cardias Gomes
Região: Nordeste
– Eixo: Raças e Identidade Étnico-Racial
Título: Terapêutica Afropindorâmica: Resgate de Nossa Originalidade e Caminhos de Cura à Subjetividade Colonizada
Autor Principal: Rodrigo Moreira Costa
Autora: Kêa Costa
Região: Sudeste
– Eixo: Raças e Identidade Étnico-Racial
Título: Mulheres, Psicólogas e Negras: A Atuação de Edna Roland
Autora Principal: Camila Rodrigues Francisco
Região: Sudeste
Trabalhos com Menção Honrosa:
– Eixo: Interseccionalidades
Título: Censo Psicossocial: Uma Formação Interventiva, Antimanicomial e Antirracista
Autor Principal: Daniel Duba Silveira Elia
Autores: Lucas Moura Santos Silva, Priscila Marques Niza de Oliveira, Bruno Lopes Lima, Erika Rodrigues Silva, Jessica Taiane da Silva, Rachel Gouveia Passos
Região: Sudeste
– Eixo: Interseccionalidades
Título: Saúde Mental e Povos Tradicionais Ciganos: Uma Vivência em Grupo
Autora Principal: Raquel Freire do Amaral
Região: Sudeste
– Eixo: Geracional: Racismo na Infância, Juventude e Envelhecimento
Título: Racismo e Representatividade na Constituição da Identidade de Crianças e Adolescentes Negras em Acolhimento Institucional
Autora Principal: Carolina da Silva Nascimento
Região: Sudeste
– Eixo: Raças e Identidade Étnico-Racial
Título: Tecnologias de Enquadramento: Você Já Assistiu a Alguma História que Lembrasse a Sua?
Autora Principal: Denise Queiroz Costa da Luz
Região: Sudeste
Sobre a premiação
O Prêmio Profissional Virgínia Bicudo “Práticas para uma Psicologia Antirracista” foi instituído por meio da Resolução CFP nº º 9, de 28 de maio de 2022. Seu texto prevê que a premiação seja permanente no âmbito do CFP e realizada anualmente. A premiação da primeira edição ocorreu no mesmo ano, durante o Seminário Nacional que celebrou os 25 Anos da Comissão de Direitos Humanos do CFP, integrando a agenda de celebrações dos 60 anos da regulamentação da Psicologia no Brasil.
Sobre Virgínia Bicudo
Virgínia Leone Bicudo foi uma pioneira na Psicologia e na luta pelas relações raciais no Brasil. Primeira mulher negra a integrar o plenário do CFP e a redigir uma tese sobre relações raciais no país, Virgínia Bicudo deixa um legado de promoção de práticas psicológicas inclusivas e antirracistas, inspirando a premiação que leva seu nome e reconhece iniciativas de profissionais que trabalham pela equidade e pela diversidade no campo da Psicologia.
Fonte: Conselho Federal de Psicologia