“A mídia enquadra e condiciona o comportamento e o imaginário das pessoas, além de exacerbar o consumismo de tal modo que termina por gerar conflitos no plano social”. A colocação da psicóloga carioca Roseli Gofmann - feita durante o Seminário Psicologia e Mídia: Desafios na Construção de uma Comunicação Democrática, no Auditório da sede da CRPRS, em Porto Alegre, na última sexta-feira (18) - de certo modo sintetizou alguns dos aspectos que mais tocam à psicologia no debate sobre democratização da comunicação. Representando o CFP e integrante do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Roseli foi palestrante convidada ao evento, juntamente com o jornalista Juliano Maurício de Carvalho, de SP, membro do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo e militante histórico pela democratização da mídia. A mesa foi composta também pela psicóloga conselheira do CRPRS, Ivarlete Guimarães de França, que relatou a Mobilização no RS para a Realização da I Conferência Nacional de Comunicação, que acontecerá no mês de dezembro, em Brasília.
Tendo como tema “Cenário Midiático: Correlação de forças envolvidas neste processo”, Carvalho começou fazendo um diagnóstico sobre as relações muitas vezes promíscuas da grande mídia com o estado brasileiro, e lembrou que só agora esta “caixa preta” irá ser objeto de uma conferência nacional. “O elemento fulcral do debate é a gestão de conteúdos, numa balança em que em um prato existe a chamada liberdade de imprensa, ou no caso liberdade de empresa, sem limites, e no outro o controle público, da sociedade, sobre os conteúdos da mídia”. Juliano historiou rapidamente a relação de pressão dos grandes grupos de comunicação – como os Diários Associados de Assis Chateaubriand, nos anos 40 e 50, e a Rede Globo, a partir da década de 60 – sobre governos e governantes, num quadro que se mantém até hoje. Citou também, neste contexto, como a grande mídia cresceu e tornou-se o que é hoje no Brasil, sem qualquer controle social e atuando abertamente contra a legislação, em vários aspectos.
Crianças e adolescentes
A respeito do papel da mídia sobre o comportamento de crianças e adolescentes, tem posição firmada: “A mídia é responsável por um estrago monumental na educação infantil no Brasil, onde se mistura comércio e informação, num consumismo exacerbado”, disse ele. E questionou: “Por que tudo isso não está na discussão, na agenda da sociedade brasileira? Por um motivo muito simples: a mídia nnunca coloca a própria mídia como ponto de pauta. Uma greve de jornalistas nunca sai no jornal”.
Roseli Gofman, na mesma linha, destacou o papel de psicólogos e psicólogas: “Temos que incidir junto às famílias e escolas, que sozinhas não conseguem dar conta do excesso de consumismo, em demandas geradas pela mídia”, disse. “Temos pesquisas mostrando que uma criança brasileira passa mais de 4h por dia frente à TV – além da internet”, complementou. Conteúdos da mídia? Ela lembrou que já existe a campanha contra o baixo nível e a erotização precoce induzida pela publicidade e pela programação, que precisa ser aprofundada, assim como propagandas de carros incitando os motoristas à velocidade, e outras que associam artificialmente o consumo de bebidas alcoólicas à saúde ou aos esportes. Mais ainda: “Essa análise de conteúdo da TV também vai abrir um novo mercado de trabalho aos psicólogos”, lembrou. Sobre a situação no Rio Grande do Sul, Roseli foi clara: “A mídia aqui criminaliza os movimentos sociais de uma maneira evidente”.
Realidade brasileira
Ivarlete Guimarães de França, em uma intervenção, chamou a atenção sobre o que observou em recente viagem ao México: “Notei que os telejornais de lá divulgam muito mais tudo o que se passa na América Latina do que a televisão brasileira. Temos que ter uma mídia que aprofunde e reflita a realidade do povo brasileiro e do nosso continente”, afirmou. Da platéria que compareceu ao Seminário - e que incluia delegações de Caxias e Pelotas – surgiu uma colocação que ampliou o debate: “Precisamos ter no Brasil uma educação crítica da mídia, que nos permita ler nas entrelinhas da TV e do noticiário”.
Conferência de Comunicação
A psicóloga Ivarlete, integrante da Comissão RS Pró-Conferência de Comunicação, comentou a mobilização que vem sendo feita no Estado para garantir as etapas regionais e estadual da Conferência. "O Governo do Estado tem até o dia 22 para chamar a Conferência Estadual. Se isto não ocorrer, a Assembléia Legislativa deverá convocar", comentou.
De acordo com o Regimento Nacional, o RS deverá ter 80 delegados na Conferência Nacional de Comunicação, que ocorrerá no mês de dezembro, em Brasília.