Na noite de segunda-feira, 30/11, a Comissão de Educação do CRPRS promoveu o evento “Psicologia, Educação e Racismo: legislação, branquitude, relações e descolonialidades”. Na abertura do evento, o presidente da Comissão, Vinicius Pasqualin, resgatou o histórico de formação desse espaço no CRPRS, dedicado a discutir a inserção da Psicologia na Educação. “Com a aprovação da Lei nº 13.935/2019 temos nos mobilizado para tentar implementar essa Lei tendo sempre muito cuidado para não permitir retrocessos, com a violação de direitos. É um momento de dialogar para fazer resistência ao que está sendo posto: necropolitica, medicalização, machismo, LGBTfobia”.
Organizado por Laura Maltz e Carolina Lima, integrantes da Comissão de Educação, destacaram a importância dessa temática ser transversal e contínua, sendo essa uma atividade disparadora para outros encontros que acontecerão no próximo ano.
Fernanda Francisca da Silva (CRP 07/23382), coordenadora Político Pedagógica do Centro de Juventude da Lomba do Pinheiro (no Instituto Cultural São Francisco de Assis - Centro de Promoção da Criança e do Adolescente) e integrante da Comissão de Relações Étnico-Raciais do CRPRS, relatou que ainda encontra muitas pessoas que não sabem o que significa racismo ou racismo estrutural, partem da ideia de que vivemos em uma democracia racial. “Não há explicação plausível para não sabermos que o racismo existe e que atua de maneira global, nas ações das pessoas e do Estado”.
Para Fernanda Francisca, em muitos espaços na Educação não há uma autorização moral para falar sobre a temática, há uma negação sobre o que acontece e ter psicólogas/os e assistentes sociais nesses espaços não garante que a pauta do racismo terá destaque. “Há uma inadequação das/os profissionais da Educação para lidar com o racismo. Há um silenciamento sobre a temática”.
Sobre a busca de equidade, Fernanda Francisca ressalta porque ela não é possível. “Num país como o Brasil e que alguns grupos étnicos receberam incentivos e outros viveram a barbárie, na tentativa de apagamento da sua história, é nítido que há diferenças de lugares de partida”.
A dificuldade de as/os profissionais da Educação lidarem com saberes não brancos ou pasteurizados e de que forma a Psicologia pode contribuir para mudar essa realidade foi destacada pela convidada. “Qualquer temática que fale de Educação precisa ter um viés de raça. Precisamos refletir sobre como as questões de relações raciais são tratadas. Quanto mais profissionais da Psicologia se aprofundarem e entenderem a temática das relações raciais, mais preparados estarão para tratar dessa questão nos espaços escolares”.
Para Jorge Luís Terra da Silva, procurador e Coordenador da Comissão de Direitos Humanos da Procuradoria Geral do Estado do RS e presidente da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra da OAB/RS, a Psicologia tem muito a contribuir no enfrentamento dos fenômenos raciais.
Jorge trouxe conceitos importantes sobre racismo e de que forma ele se apresenta, sendo segregacionista ou assimilacionista, quando a pessoa nem fala em raça, mas fala em cultura e comportamento e os associa a determinados grupos. “Além disso, a população negra sofre com vieses raciais, em que há uma distorção, um pensamento tendencioso e tem sempre que superar isso”. O convidado também fez um resgate histórico da origem do racismo no Brasil.
Jorge ressalta que temos uma produção de subjetividade, uma comunicação e uma linguagem que nos levam a manter esses estereótipos e fenômenos raciais. “No Brasil, temos a ideia de que a existência de uma lei resolve o problema. Temos uma população que tem direitos, mas não tem força política para vê-los implementados”.
Para se estruturar uma política pública há a necessidade da identificação de um determinado problema. “A morte de jovens negros deveria ser um problema, mas isso não entra na agenda política. Por isso, não encontramos nenhuma atitude prática que enfrente essa questão”. Na opinião de Jorge, todos somos responsáveis pelo enfrentamento do racismo e não deve ser atribuído unicamente à Educação essa responsabilidade.
Encerrando a atividade, Sofia Lopes Piccinini e Fernanda Maiato Chagas, acadêmicas de Psicologia da UFRGS, falaram sobre sua experiência como o tema vem sendo trabalhado atualmente na universidade e os desafios de pensar as relações raciais, a branquitude e o racismo nesse contexto. “Estamos inseridas em espaços que trazem o debate, mas ainda há um excesso de branquitude e desigualdade racial”.
A politica de cotas aumentou o ingresso de negros, indígenas e pessoas com deficiência, permitindo encontros que proporcionem essa reflexão. “Há lugares, espaços que têm uma pretensão progressista, mas a lógica racista se mantém. Existe violência, mas também a possibilidade de reflexões e análises possíveis acerca do racismo”, afirmam as estudantes.
Conceitos como o de epistemicídio foram apresentados pelas acadêmicas como necessários a auxiliar a Psicologia a entender o racismo especialmente ligado ao contexto da Educação. “Considerando o racismo estrutural, a educação antirracista não deve ser algo pontual, mas precisa fazer parte de uma agenda”.
Assista ao vídeo da atividade na íntegra: