O CRPRS realizou nesta semana o 13º Webinário Atuação da Psicologia em Emergências e Desastres, eventos que vêm sendo promovidos pelo CRPRS desde o início de maio com o objetivo de orientar profissionais da Psicologia que estão atuando como voluntárias/os ou como trabalhadoras/es das redes de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), nas cidades atingidas pelas enchentes que assolaram o estado do Rio Grande do Sul. Os eventos são transmitidos pelo Canal do CRPRS no YouTube.
Na segunda-feira, 24/06, o tema debatido foi “Psicologia Escolar e Educacional e situações de emergências e desastres: reflexões e ações possíveis”. Rafael Antonio Carneiro (CRP 07/29069), conselheiro e presidente da Comissão de Educação do CRPRS, mediou o webinário destacando a importância dessa série de eventos promovidos pelo CRPRS para a compreensão política de tudo o que o estado vem vivenciando. “A escola precisa ser um espaço de pertencimento, de união da comunidade, que precisa estar ativo para potencializar uma reconstrução. A atuação da Psicologia nas políticas públicas deve seguir o preceituado na Lei 13.935, que vai muito além de um papel de ‘tratamento’”, explicou Rafael.
As convidadas trouxeram suas experiências e refletiram sobre o papel da Psicologia na atuação nos contextos educacional e escolar. Rosiane Martins de Souza Teodoro (CRP 08/14328), especialista na área de educação especial, avaliação psicológica e mestranda em Educação no Ensino Superior, compartilhou sua experiência na atuação como psicóloga escolar e clínica no caso do ataque à escola de Cambé, no Paraná. Após um ano do ocorrido, a comunidade vive o pós-emergência e a Psicologia segue sendo convocada a refletir sobre os danos psicológicos que atingiram toda uma comunidade. “Essa experiência nos mostrou a potência da Psicologia. Essa atuação não está presa ao atendimento específico da pessoa que vivenciou a crise, ou que está passando por uma situação emergencial propriamente dita, vai além da escuta psicológico. Cabe a Psicologia contribuir no pensamento estratégico e político de compreensão desse fenômeno, amplo e repleto de outros fenômenos entrelaçados, que acabam afetando o cotidiano escolar em seu dia a dia”. Para Rosiane, a situação vivenciada revelou a importância da Psicologia pensar nas ações estratégicas e preventivas diante de uma emergência.
Bianca Sordi Stock (CRP 07/15793), mestre em Psicologia Social, especialista em Problemas do Desenvolvimento da Infância e Adolescência e autora do livro “A escola como ambiente facilitador do desenvolvimento socioemocional”, ressaltou que em casos de um trauma coletivo, as soluções precisam ser coletivas também e a escola tem um papel importante nesse processo ao “ser abrigo”. “Em um trauma coletivo o que temos de recurso é a palavra, o testemunho, compartilhar experiências, tornar o indizível da tragédia narrado, possível de ser compartilhado”, afirmou. E como costurar palavras para esse momento? Bianca acredita no papel da escola como um local a serviço dessa articulação. “Aprendizagens que não estavam previstas e que foram vivenciadas com a catástrofe precisam ser contadas e registradas pedagogicamente, pela sua força civilizatória. A escola precisa dar espaço para isso. Não dá para fazer de conta que a vida segue da mesma forma. Um ponto grande de adoecimento nas escolas é tentar tocar rotinas após esses eventos como se não fossem algo significativo, não tivessem toda a força e potência disruptiva que possuem na vida dessa comunidade escolar. O conteúdo da escola é a vida”.
Encerrando o webinário, Simone Fragoso Courel (CRP 07/17831), psicopedagoga Clínico-Institucional, neuropsicóloga pela UFRGS, especialista em Avaliação Psicológica e mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, coordenadora do Núcleo de Educação da Serra do Conselho, destacou reflexões que o CRPRS vem realizando sobre a atuação de psicólogas/os em diferentes realidades no estado. “O que temos percebido é uma tendencia de se acreditar e inferir que o trabalho da Psicologia na Educação seria voltado a intervenções terapêutica a alunos. Sabemos que não é esse o viés de trabalho”, reforçou. Esse desafio que já existia antes da Lei 13.935 tornou-se ainda mais evidente principalmente com o aumento de profissionais da Psicologia na política pública da Educação. Simone reforçou a importância de se divulgar o papel da atuação da Psicologia no contexto escolar/educacional também em situações de emergências e desastres, que deve ser voltado ao acolhimento e à escuta de toda a comunidade escolar, pensando estratégias em Rede.