O Núcleo de Relações Raciais do CRPRS promoveu na quinta-feira, 25/07, mais uma edição do Ciclo de Debates “O racismo tem dessas coisas” abordando o tema da imigração. A atividade, realizada no auditório do Conselho, foi mediada pela psicóloga Gláucia Fontoura, integrante do Núcleo.
A assistente social Susane Beatris dos Santos Souza falou sobre sua pesquisa de mestrado em Ciências Sociais pela Unisinos “Mulheres Negras e a Imigração: movendo estruturas e abrindo caminhos”. O estudo tem como mote examinar as dinâmicas de gênero e a relação familiar de mulheres haitianas, no contexto da diáspora, problematizando as questões que as afetam e como vivenciam os processos de racialização. Contextualizando os sujeitos que fizeram parte de sua pesquisa, Susane identificou que independentemente de serem brasileiras ou migrantes, são mulheres negras. “Se encontram em uma situação de vulnerabilidade social e a margem da sociedade, pois chegam em um país desconhecido sem acesso aos mínimos básicos para viver”. A profissão mais comum entre elas é a de pedagoga, entretanto, todas enfrentam muitas dificuldades em conseguir emprego na área de formação, sobretudo devido às diferenças linguísticas. As demandas trazidas pelas mulheres negras haitianas são diversas, entre elas podemos citar o acesso ao Cadastro Único Para Programas Sociais do Governo Federal, a habitação e a inserção no mercado de trabalho. A população haitiana no estado é atualmente de mais de 5.300 pessoas. Apesar disso, poucos acessam os serviços de saúde. “O racismo estrutural e institucional afasta essa população dos serviços”, avalia Susane.
Vivendo há mais de seis anos no Brasil, o haitiano James Derson Sene Charles, presidente da Associação dos Haitianos no Rio Grande do Sul, falou sobre cultura e história do Haiti, marcada por processos de migração. “O povo haitiano vem ao Brasil por viveram com dificuldade em nosso país. Quando chegam aqui precisam começar do zero, tudo muda”. Para ele, a maior dificuldade de adaptação é a de entender como as coisas funcionam no país, como conseguir fazer documentos, ter acesso a programas sociais e de saúde.
A psicóloga Renata Santos da Silva, mestre e doutoranda em Educação pela PUCRS e integrante do Núcleo de Relações Raciais do CRP, contextualizou os diferentes momentos de imigração vividos no Brasil. Lembrou que no século XIX havia uma política de branqueamento que incentiva a imigração da população europeia e dificultava a imigração de negros. Para Renata, os imigrantes negros ainda hoje vivem o racismo aliado à elaboração de seus lutos (da família, da língua, da cultura, do status social etc).
O Ciclo de Debates “O racismo tem dessas coisas” tem o objetivo promover a reflexão sobre as estratégias de superação do racismo em diferentes campos de atuação da Psicologia, incluindo locais de trabalho, organizações, políticas públicas, formação, socioeducação, entre outros. Confira no Canal do YouTube do CRPRS o vídeo desta e de outras edições do projeto.