Discutir os impactos do racismo na infância foi o objetivo do terceiro encontro deste ano do ciclo de debates “O Racismo Tem Dessas Coisas” realizado na quinta-feira, 27/06, na sede do CRPRS, em Porto Alegre.
Marilene Leal Paré, mestre em Educação pela PUCRS, ex- coordenadora do Programa de Educação Anti-Racista junto à Pró-Reitoria de Extensão da UFRGS, falou sobre a importância do tema, destacando a relação tensa existente entre opressor e oprimido ainda nos dias de hoje. “Quando queremos bater nosso tambor, o ouvido europeu não aguenta. Para eles, o nosso tambor é barulho”, ressaltou em sua fala. Para Marilene, lembrar de nossa primeira infância é fundamental para entender todas as influências que estavam ao nosso redor e como elas contribuíram para sermos quem somos. O cabelo, por exemplo, é um aspecto muito importante em nossa autoestima. “Como nos sentimos com nós mesmos está ligado a como nos sentimos com nosso corpo". Marilene apresentou pesquisa realizada em 2000 e neste ano, com depoimentos que mostram como questões ligadas ao racismo não mudaram nesses 19 anos, falou sobre as consequências do racismo na infância, como rompantes de agressividade que podem ser observados nas crianças, e estratégias para enfrentamento como trabalhar a valorização de ser negro desde bebê.
Coordenadora e fundadora do Movimento Meninas Crespas, Perla da Silva dos Santos, graduada no curso de Licenciatura em Dança na UFRGS, performer e professora na Rede Municipal de Porto Alegre, apresentou o projeto que valoriza o cabelo crespo e resgata a identidade negra e o poder feminino. “É na escola que iremos viver as primeiras situações de racismo. O grande problema é que muitas vezes a criança quer se afastar daquilo que a faz sofrer e acaba abandonando a escola”. Para Perla, a Lei 10.639 ainda não é cumprida em sua totalidade, ficando as atividades relacionadas ao ensino da história e cultura afro-brasileira e africana restritas a alguns momentos do ano. Perla acredita na importância de as escolas valorizarem a história dos impérios africanos, mostrando a verdadeira Àfrica.
Michele Pens, conselheira presidente da Comissão de Avaliação Psicológica do CRPRS, ressaltou em sua fala como a avaliação psicológica ainda é marcada por aspectos que reduzem os sujeitos. Sendo a grande maioria dos testes construídos em um contexto diferente do brasileiro, não contemplam aspectos influenciadores de nossa realidade. Michele destacou que as novas resoluções do CFP (09/2018 e 06/2019) trouxeram avanços importantes para essa questão por considerarem, num processo de avaliação psicológica, fontes fundamentais e fontes complementares. “Quando se avalia uma criança negra, por exemplo, precisamos levar em conta o fato de ser negra e resgatar a história de sua família”, explica. Para ela, a/o psicóloga/o deve sempre estar atenta/o a pedidos de avaliações psicológicas que buscam estigmatizar crianças.
A atividade foi mediada pela psicóloga Renata da Silva, integrante do Núcleo de Relações Raciais do CRPRS, e contou com uma performance de Perla da Silva dos Santos.
Em julho, no dia 25/07, o ciclo de debates “O racismo tem dessas coisas” tratará sobre o tema da imigração.