O Núcleo de Relações Raciais encerrou neste ano o ciclo de debates “O racismo tem dessas coisas” abordando o tema no contexto das políticas públicas. A atividade foi realizada na noite de quinta-feira, 29/11, na sede do CRPRS, em Porto Alegre, e contou com a participação da psicóloga Dóris Adriana Pinto Soares e da assistente social Carla Bandeira.
Mediado pela psicóloga Fernanda Francisca da Silva, integrante do Núcleo de Relações Raciais, o debate evidenciou como o racismo está presente no dia a dia dos profissionais que atuam nas políticas públicas, principalmente na Assistência Social. “A própria existência do Sistema Único de Assistência Social revela que vivemos em um país desigual, em que políticas são necessárias para se buscar uma equidade”, analisou Fernanda Francisca.
A assistente social Carla Bandeira, especialista em direitos humanos, que atua desde 2014 como coordenadora do CREAS Partenon, em Porto Alegre, apresentou um panorama de como a política de Assistência Social foi sendo constituída no Brasil e especificamente em Porto Alegre, destacando os eixos estruturantes. “Apesar de 54% da população brasileira ser negra, o que temos de políticas públicas voltadas a essa população?”, instigou Carla. Para ela, as/os profissionais devem pensar em ações voltadas às famílias negras e, para isso, precisam realizar um recorte étnico-racial. Carla também observa que há poucos colegas servidoras/es negras/os atuando nos serviços e menos ainda em cargos de chefia ou gestão, o que é algo para ser analisado.
Trabalhadora da Política de Assistência Social há 13 anos, a psicóloga Dóris Adriana Pinto Soares chama a atenção para um dado importante: enquanto 71% da população que vive em situação de extrema pobreza é negra, essa proporção não se reflete no público atendido pelas políticas públicas, principalmente pela Assistência Social. “Não há um recorte étnico-racial, mesmo sendo uma política que atende uma maioria negra. Percebemos que nos espaços de acolhimento, por exemplo, a população negra não é maioria e o tempo de acolhimento da população negra também é menor”, afirmou Dóris que defende a necessidade de ampliação do debate sobre questões como essas. “De que forma, nós trabalhadoras/es, olhamos para essas questões? Infelizmente ainda há um entendimento de que somos todos iguais, as pessoas não percebem as diferenças. Precisamos descolonizar nossas mentes para pensar no racismo”, concluiu.
A necessidade de se refletir por que a população branca acessa mais os serviços do que a população negra foi destacada pela conselheira Manuele Montanari Araldi, atual presidente da Comissão de Políticas Públicas do CRPRS. “Nós brancos também precisamos fazer esse debate. Trabalhar com usuários dos serviços processos de racismo que sofrem, reconhecer que isso é uma violência. O racismo é um tema transversal que deve estar presente em todos os debates”.
O ciclo "O racismo tem dessas coisas" é uma iniciativa do Núcleo de Relações Raciais do CRPRS. Tem o objetivo de promover a reflexão sobre estratégias de superação do racismo em diferentes campos de atuação da Psicologia, incluindo locais de trabalho, organizações, políticas públicas, formação, socioeducação, entre outros.
Neste ano, de abril a junho o NRR promoveu o cilco de estudos “Relações Raciais: referências técnicas para a prática da/o psicóloga/o”, que debateu o tema com o enfoque em cinco perspectivas: dimensão histórica, conceitual e ideológico-política da temática racial; âmbitos do racismo: racismo institucional, interpessoal e pessoal; enfrentamento político ao racismo: o movimento negro; Psicologia e a área em foco; atuação da/o psicóloga/o na desconstrução do racismo e na promoção da igualdade. A partir de agosto, teve início o ciclo de debates “O racismo tem dessas coisas”, que abordou o tema com enfoque na formação, juventude, psicoterapia, além das políticas públicas. Para 2019, o Núcleo de Relações Raciais pretende dar continuidade ao projeto, destacando novos enfoques.