O Conselho Regional de Psicologia fez o lançamento das Referências Técnicas para a Prática de Psicólogas(os) em Políticas Públicas de Álcool e Outras Drogas, no sábado, 12/07, em Porto Alegre. O documento foi produzido a partir da metodologia do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop).
O tema da pesquisa surgiu de uma demanda da categoria apontada no VI Congresso Nacional da Psicologia, realizado em 2007, indicando a necessidade do Sistema Conselhos promover discussões e ações acerca da questão, destacando-se a violação dos Direitos Humanos e a importância da perspectiva da redução de danos (RD) no atendimento aos usuários de álcool e outras drogas no Sistema Único de Saúde (SUS).
No Rio Grande do Sul, a pesquisa foi desenvolvida em 2009 por meio do mapeamento dos psicólogos que atuavam na área, identificando as políticas e serviços oferecidos a usuários de álcool e outras drogas. Além da pesquisa online, disponibilizada a toda categoria, foram realizados dois encontros presenciais, um exclusivo para psicólogos e outro multiprofissional.
Para o assessor técnico de políticas públicas do Crepop, André Sales, esse período foi caracterizado pelo desalinhamento entre as orientações nacionais e estaduais na gestão da saúde mental no Rio Grande do Sul. “A política nacional de cuidado aos usuários de álcool e outras drogas entrava em conflito com diretrizes locais, conforme os psicólogos que participaram da pesquisa relatam. A política de gestão estadual da Saúde Mental estava focada na contratação de vagas em comunidades terapêuticas para ampliação da oferta de atendimento em dependência química, em especial para tratamento do crack. Os participantes da pesquisa também citaram um retorno forte dos aspectos relacionados à genética e a conceitos biológicos, o que caracterizava certo retrocesso do modelo de assistência e reforma psiquiátrica”.
Daniel Araújo, redutor de dano e coordenador do Consultório de Rua de Caxias do Sul, falou sobre seu trabalho nas equipes de redução de danos, destacando o aprendizado diário com os próprios usuários. “É preciso sentar com os usuários, conversar sobre seu sofrimento e compor, em conjunto com eles, um projeto terapêutico singular. Nessa relação fica difícil determinar quem ajuda quem, pois o processo é feito por uma troca constante”, revelou Daniel que também destacou a importância de tencionar as equipes de redução de danos para flexibilizarem algumas normas e regras do serviço. “Percebemos um esforço dos usuários para fortalecer o vínculo com equipes e serviços. Temos que valorizar isso”.
A técnica social na Rede de Proteção Especial de Alta Complexidade da Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC), Rejane Scherolt Pizzato, destacou em sua fala a importância de alinhar as ações entre diferentes frentes de trabalho para o estabelecimento de um trabalho qualificado. “A falta de recursos muitas vezes é um entrave para viabilizar as ações. Além disso, em alguns casos, e a concepção da gestão é diferente da nossa concepção, o que gera um conflito sobre como devemos proceder”.
Rose Teresinha da Rocha Mayer, psicóloga e mestre em Psicologia Social e Institucional, que atua no Centro de Referência para o Assessoramento e Educação em Redução de Danos da Escola de Saúde Pública, fez uma análise das Referências Técnicas que estavam sendo lançadas. “Precisamos lembrar que as referências são construídas em campo. O psicólogo não tem uma formação voltada para essa atuação nas políticas públicas, passa a olhar para esse campo quando enxerga ali uma possibilidade de emprego. Temos que incidir sobre a formação. Nosso desafio é construir junto com a área de atuação e não para as áreas. Acredito que o grande desafio é produzir conhecimento implicado, produzir realidade”, afirmou Rose.
Para Rose, precisamos ir além da inserção profissional e olhar de forma descentralizada o cotidiano, a prática. “Não estamos sozinhos enquanto categoria. Precisamos nos conectar como equipes para conectar saberes. Por isso, é muito importante pensar a atuação em conjunto com outros profissionais. O CRP pode contribuir nesse processo, sendo um observatório de práticas transversalizadas pela Psicologia”, destacou.
As referências construídas possibilitam a elaboração de parâmetros compartilhados e legitimados pela participação crítica e reflexiva da categoria. Refletem o processo de diálogo que os Conselhos vêm construindo com a categoria, no sentido de se legitimar como instância reguladora do exercício profissional.
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