Em 18 de maio foi comemorado o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, movimento que questiona a produção de estigmas e exclusão social quanto à loucura e propõe a construção de uma sociedade sem manicômios, com mudanças no cenário da atenção à saúde mental, a partir da Reforma Psiquiátrica no Brasil.
Ao contrário do que é proposto pela Lei da Reforma Psiquiátrica e defendido pelo Ministério da Saúde, o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul vem fazendo verdadeira campanha na mídia pedindo a abertura de mais leitos psiquiátricos.
O CRPRS vem manifestar que é contra a abertura de novos leitos psiquiátricos. Abaixo, publicamos reportagem apresentada pela TV Globo, mostrando um programa alternativo para o tratamento de transtornos mentais.
Reportagem da TV Globo:
A cada ano, o número de leitos nos hospitais psiquiátricos diminui. As situações de pacientes ociosos, amarados e trancafiados são tudo o que os médicos, atualmente, condenam no tratamento de distúrbios mentais.
O paciente José Alves, morador de Samambaia, já esteve internado no Hospital São Vicente de Paula, o único hospital público especializado em tratamento psiquiátrico no Distrito Federal. A mulher dele, Maria Salomé da Silva, ainda guarda os tristes dias na lembrança.
“É terrível você entrar dentro de manicômio e ver as pessoas amarradas, tomando aquelas injeções terríveis. As pessoas ficam totalmente drogadas. Eu, sinceramente, quando internei o meu marido naquele hospital acabei ficando mais doente que ele”, conta Maria Salomé.
José Alves é beneficiário do Programa De Volta Pra Casa, que desde 2003 entende pacientes que tenham mais de dois anos, ininterruptos, de internação. Eles recebem um auxílio-reabilitação, no valor de R$ 240. José, agora, fica em casa com a esposa e o filho, e vai duas ou três vezes na semana ao hospital. E ainda pode desenvolver as suas habilidades manuais.
“Através do meu tratamento no hospital consegui aprender a fazer uma coisa, que são os tapetes, que eu jamais imaginei que daria conta. E hoje eu já tenho idéia do que estou fazendo. Sei que é parte de uma terapia, mas ela está me ajudando a ter, quem sabe, uma profissão”, fala José Alves Ribeiro, paciente.
“O pessoal do programa ensinou a gente a ter paciência com o paciente, fazer caminhadas com ele. Ter uma melhor convivência, para a gente buscar entender a doença dela”, fala Salomé.
“Este ano completa seis anos de vigência da lei que modifica o modelo de atendimento em saúde mental. É importante destacar que o Brasil tem uma lei que sustenta essa mudança, e que ela não ocorreu apenas porque foi desejada pelos profissionais da área. Antes, o quarto escuro era utilizado porque se acreditava que deixa o paciente mais calmo. Todos esses maus tratos tinham suas justificativas, mas que era inaceitável. Na verdade era uma situação de abandono. Acredito que com essa mudança, do paciente ter o tratamento em casa se revelou eficaz. Ainda há problemas, como de sustentação, fiscalização, manutenção e muitos outros. Mas acho que o Brasil adotou um caminho correto, sem submeter os pacientes a internações longas”, afirma o
coordenador de Saúde Mental, do Ministério da Saúde, Pedro Gabriel Delgado.
“Infelizmente, existe o preconceito na família, mas, principalmente, na sociedade. Por isso, que esse programa De Volta Pra Casa é muito importante. Mas ainda temos muito que fazer. Temos mais de 40 mil leitos em hospitais psiquiátricos em todo o país. Então, é preciso avançar no sentido da deshospitalização”, enfatiza André Leonardi, do Conselho Federal Psicologia.
Fonte: TV Globo