Na noite de terça-feira, 13/07, o CRPRS promoveu a roda de conversa “Práticas da Psicologia na socioeducação: meio aberto e meio fechado”. Mediada pelo conselheiro Pablo Potrich Corazza (CRP 07/19986), presidente da Comissão de Políticas Públicas, a atividade marcou o lançamento do Núcleo de Medidas Socioeducativas e teve como objetivo dar visibilidade a práticas bem sucedidas de intervenção da Psicologia no sistema socioeducativo e marcar os 31 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente, instituído pela Lei 8069 de 1990.
Na abertura, a coordenadora do Núcleo de Medidas Socioeducativas, Regina Longaray Jaeger (CRP 07/09204), resgatou como as discussões referentes ao tema da socioeducação surgiram no CRPRS em 2016 e convidou categoria e todas/os envolvidas/os com o tema a participarem dos encontros do Núcleo. Para Regina, a Psicologia deve estar atenta à correlação de forças entre medidas que pedem o aumento da clausura e a redução da idade penal contra políticas públicas emancipatórias e a garantia total dos direitos. “A melhor forma de defesa do ECA e do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) é mostrando a existência de práticas que funcionam e dão certo. A retomada do Núcleo no CRP tem o objetivo de criar um espaço de afirmação de práticas das políticas públicas relacionadas à socioeducação”, afirmou.
Ainda na abertura, a presidenta do CRPRS, Ana Luiza de Souza Castro (CRP 07/3718), lembrou de sua trajetória profissional ligada à socioeducação. “Era um tempo em que adolescentes eram recolhidos por algo chamado de ‘atitude suspeita’. Por isso, temos sim que comemorar o aniversário do ECA e a mudança na forma que enxergamos o adolescente autor de um ato infracional, com o avanço de práticas integrativas e não excludentes”.
Na sequência, Cristina Chazan (CRP 07/8035), psicóloga da FASE/RS, organizadora e autora do livro “Vida adolescente: perspectivas de compreensão”, e Tiago Schimit, graduando de psicologia na UFRGS e ex-estagiário da Fundação de Atendimento Socioeducativo do Rio Grande do Sul (FASE-RS), falaram da experiência na escuta de jovens do Centro de Atendimento Socioeducativo Padre Cacique (CASE-PC), unidade da FASE. “Nossa abordagem precisa sempre estar sendo redesenhada para atender adolescentes e seus familiares. Nosso desafio é compreender adolescentes em suas muitas complexidades: políticas, sociais, familiares, individuais”, destacou Cristina reforçando a importância de um trabalho multidisciplinar e em equipe para oferecer espaços criativos e subjetivantes de trocas e contribuir com o retorno do adolescente ao seu convívio familiar e comunitário, “de onde eles nunca deveriam ter saído se tivéssemos uma sociedade com políticas mais inclusivas, escolas e famílias amparadas socialmente”, complementou. Cristina apresentou a estratégia dos grupos terapêuticos que desenvolvia na FASE antes da pandemia que abriam espaço para os adolescentes falarem e se reconhecerem como sujeitos desejantes, identificando novas possibilidades de vida. Tiago ressaltou a importância de a escuta, mesmo tendo que ser feita somente de forma individual devido à pandemia da Covid-19, ser fluida e respeitar a singularidade e complexidade dos jovens, possibilitando que ele seja visto muito além do seu ato infracional. “O jovem é muito mais do que isso e ele precisa se ver para além desse ato”.
Trazendo sua experiência em socioeducação no meio aberto, Mariana Porto Ruwer de Azambuja (CRP 07/11355), que é psicóloga da Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC), falou sobre o trabalho que realiza no serviço de proteção a adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida e de prestação de serviços à comunidade. Mariana reforçou a importância do fortalecimento de políticas públicas que considerem questões como matricialidade sociofamiliar, territorialização e proteção pró-ativa. “É fundamental ver o adolescente em seu contexto (família, comunidade, território) para conseguirmos ajudar esse jovem a ressignificar seu projeto de vida”. A convidada mencionou também as dificuldades de inserção social e pessoal desses jovens, muitas vezes motivadas pelo preconceito.
Encerrando as falas, Analice Brusius (CRP 07/11356), psicóloga do Centro de Atendimento Socioeducativo Novo Hamburgo da FASE/RS, apresentou sua pesquisa de doutorado em Ciências Sociais sobre jovens egressos de medida socioeducativas. “O estudo teve como objetivo identificar como fatores de risco e os protetivos influenciam para que os jovens egressos deixem de se envolver com delitos, após o cumprimento das medidas socioeducativas privativas de liberdade”, explicou. A necessidade de as políticas públicas estarem articuladas em rede e de acordo com a realidade de cada jovem, respeitando suas singularidades, é fundamental para sua inserção social após o cumprimento da medida. Além disso, família, educação e participação na sociedade também foram fatores protetivos importantes identificados no estudo.
Para participar das reuniões do Núcleo de Medidas Socioeducativas acompanhe a agenda de reuniões divulgadas no site e redes sociais do CRPRS ou envie e-mail para comissoes@crprs.org.br.
Vem aí 11º CNP
A roda de conversa “Práticas da Psicologia na socioeducação: meio aberto e meio fechado” foi considerada um evento preparatório para as etapas que antecedem o 11º Congresso Nacional da Psicologia (CNP), instância máxima em que são discutidas e deliberadas políticas prioritárias para os próximos anos, ou seja, para as próximas gestões dos Conselhos Regionais e do Federal.
O 11º CNP será realizado pelo Conselho Federal de Psicologia de 2 a 5 de junho de 2022 e terá como tema “O Impacto Psicossocial da Pandemia: Desafios e Compromissos para a Psicologia Brasileira Frente às Desigualdades Sociais”. Para participar é preciso ter sido eleita/o delegada/o nos Congressos Regionais da Psicologia (Coreps), que serão realizados entre 18 de março e 17 de abril de 2022. Os Coreps reúnem as/os representantes que foram eleitas/os nos Pré-Congressos, que acontecem entre 30 de setembro de 2021 a 28 de janeiro de 2022.
Fiquem atentas/os à agenda dos Pré-Congressos que serão promovidos pelo CRPRS e participem!
Assista ao vídeo da roda de conversa na íntegra: