No Mês dos Povos Indígenas, marcado pelo 19 de abril e celebrado desde 1943 no Brasil e em diversos países do continente americano, o CRPRS realizou na terça-feira (03/04) a Roda de Conversa “Psicologia, Direitos Humanos e Povos Indígenas”. A atividade, promovida pela Comissão de Direitos Humanos e pela Comissão Gestora da Subsede Serra, foi realizada na Faculdade Anhanguera de Passo Fundo com o objetivo de promover o debate junto às/aos psicólogas/os da região e de sensibilizar a categoria sobre a pauta dos direitos humanos e sua intersecção com as violências de Estado.
O norte gaúcho tem se destacado como uma região central de conflitos agrários no Rio Grande do Sul por conta da predominância do agronegócio. No dia 15 de março, uma operação militar em Passo Fundo se impôs violentamente contra 12 famílias kaingangues moradoras da cidade. A situação foi debatida no Conselho Estadual de Direitos Humanos e no Comitê Estadual de Combate à Tortura, espaços em que o CRPRS atua sistematicamente.
Fernanda Facchin Fioravanzo, conselheira do CRPRS e integrante do Comitê Estadual de Combate à Tortura, a colaboradora da Comissão de Direitos Humanos Ana Júlia da Silva Pereira (representante do CRPRS no Conselho Estadual de Direitos Humanos e no Comitê Estadual de Combate à Tortura) e a colaboradora da Subsede Serra Tatiane Baggio coordenaram o debate sobre a questão indígena e as discussões relacionadas ao tema no Sistema Conselhos de Psicologia.
Também estiveram presentes as psicólogas Alessandra de Matos Marini e Priscila Góre Emílio, ambas da etnia kaingang. Elas falaram sobre o trabalho que realizam com famílias em Passo Fundo e da região na operacionalização da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. Citaram o alcoolismo e o suicídio como alguns dos principais agravos no cuidado em saúde mental, uma vez que o modo de vida indígena tem sofrido diversos impactos ao longo das décadas, desde a ocorrência constante de genocídios, principalmente por disputas de terra pelo agronegócio, até a perda de sentido cultural pelo desrespeito à sua diversidade pela população não indígena.
“As contribuições da Alessandra e da Priscila foram essenciais para problematizar os estereótipos e preconceitos ainda presentes pela desconsideração das diferenças étnicas, sociais e culturais dessas populações”, disse Fernanda. As psicólogas destacaram que a população indígena está em processo de crescimento no Brasil, sendo que o Censo 2010 revelou uma alta superior à expectativa. Neste sentido, cabe destacar que, segundo dados do IBGE, 0,4% da população brasileira é indígena, correspondendo a 896.917 pessoas divididas em 305 etnias.
Em 2013, ocorreu o I Encontro “Psicologia, Povos Indígenas e Direitos Humanos” promovido pelo Conselho Federal de Psicologia, que possibilitou avanços na reflexão sobre as possibilidades de atuação da Psicologia com os povos, compreendendo sua diversidade e os múltiplos desafios gerados pelas suas relações com a sociedade, com as instâncias governamentais e com as políticas públicas. Com a preocupação de integrar essas discussões, o CRPRS propôs uma agenda para a continuidade do diálogo com uma nova reunião, que ocorrerá em cerca de três meses na região. A data da reunião será informada pelos canais de comunicação do CRPRS.
O Mês dos Povos Indígenas foi oficializado pela Lei Nº 5.540, de 2 de junho de 1943, pelo então presidente Getúlio Vargas depois do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano que ocorreu em 1940 no México.