Para marcar o lançamento no Rio Grande do Sul do livro "Tentativas de aniquilamento de subjetividades LGBTIs" das Comissões de Direitos Humanos do Sistema Conselhos de Psicologia, o CRPRS promoveu um sarau na Feira do Livro de Porto Alegre. A atividade realizada no sábado, 09/11, lotou o auditório Barbosa Lessa do Centro Cultural CEEE Erico Verissimo. O evento contou com a participação de psicólogas/os, movimentos sociais, sociedade civil e população em geral.
O evento teve o objetivo de criar um espaço de partilha e de reflexão. A conselheira Cristina Schwarz, presidente da Comissão de Direitos Humanos do CRPRS, destacou a importância do tema para a atual gestão do Conselho. “Este evento tem uma intenção militante: chamar a sociedade para a reflexão e mostrar que nossa cultura oprime e aniquila as diferenças que não suporta e quer esconder. Nosso papel, enquanto Conselho, é pautar a categoria para que sua atuação seja ética e não permita a negligência com relação a essas violências cotidianas. É uma afirmação da vida e da resistência.”
A abertura da atividade também contou com a participação da presidenta do CRPRS, Ana Luiza de Souza Castro, e do representante do Conselho Federal de Psicologia, Héder Bello. Ana Luiza, que presidia a Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia quando a publicação foi organizada, explicou que, desde julho, o livro vem sendo lançado em vários estados com o objetivo de apresentar e denunciar para a sociedade brasileira testemunhos marcantes de 32 pessoas submetidas a terapias de reversão sexual, em nome de ações moralizantes de vidas dissidentes das sexualidades heteronormativas. “Tentamos dar visibilidade para os processos de dominação e opressão das práticas ditas de reversão sexual e explicitar as violências e sofrimentos produzidos pelo exercício profissional inadequado e preconceituoso. É uma realidade extremamente preocupante e aviltante”.
Representando o Conselho Federal de Psicologia, Héder Bello apresentou o projeto do livro. “Os depoimentos ilustram diferentes formas de opressão a que gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais estão submetidos no contexto social, seja pela estigmatização, discriminação ou ofertas de ‘tratamentos’ em torno da promessa de cura ou reorientação da sexualidade e de gênero. E, apesar das tentativas de aniquilamento, essas pessoas resistiram”. Héder citou os ataques à Resolução CFP nº 01/99, com a tentativa de reorientar o desejo das pessoas e de “congelar identidades” numa lógica cis-heteronormativa. O livro é uma obra performática que a Psicologia oferece à sociedade ao apresentar histórias de dor, tortura e violência. “Apesar de todas essas tentativas de aniquilamento, essas pessoas resistiram e quiseram viver outras possibilidades, criaram maneiras de afirmar seus desejos e suas identidades, apesar de tudo.”
Na sequência, a radialista Kátia Suman mediou o sarau com leituras interpretativas de trechos do livro feitas pelas/os convidadas/os: Alessandra Greff, mulher transexual, trabalhadora da Saúde; Antônio Carlos Falcão, ator, cantor e compositor; Jorge Furtado, cineasta e roteirista; Victor Di Marco, estudante de cinema, ator, cineasta e uma pessoa com deficiência; Agnes Mariá Davila Cardoso, artivista, poeta, escritora, idealizadora da iniciativa cultural Poetas Vivos. “Os relatos parecem vir de um tempo remoto, por isso são tão impactantes. Mostram uma realidade assustadora. Isso está acontecendo hoje, o tempo todo”, comentou Kátia Suman.
A abertura e o encerramento ficou por conta de performance poética de slam feita pelas integrantes da Poetas Vivos RS: Agnes Mariá Davila Cardoso, Pretana (Ana Tereza Reis) e Natalia Pagot Xavier.