O Seminário foi promovido pelo CRPRS – por meio da Comissão de Direitos Humanos e do Núcleo de Gênero, Raça e Sexualidade da Subsede Sul –, Homens Trans em Ação (HTA-RS), Girassol – Amigos na Diversidade, Conselho Estadual de Promoção dos Direitos LGBT do RS, Núcleo de Estudos e Pesquisa É’LLÉKO - UFPEL/UFRGS e Coletivo Trans Juliana Martinelli.
A abertura do Seminário contou com performance artística da Sá Biá, artista e intérprete na coletiva Ruidosa Alma. Em seguida, Jaqueline Gomes de Jesus (CRP 05/49337), psicóloga e professora no IFRJ, doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações pela UnB e integrante da Comissão de Direitos Humanos do CFP, resgatou sua história de articulação, unindo práxis, teoria e militância. Para Jaqueline, é preciso pensar identidade de gênero considerando as complexidades que envolvem esse conceito. Ela abordou as diferenças entre personalidade, identidade e identidade social, destacando o paradoxo citado por Gordon Allport: “somos todos iguais, porém diferentes e únicos”. E como lidar com essa diversidade? “Entendendo que diverso não é só o outro, somos todos nós. Respeitando as dimensões da diversidade cultural”, afirmou a convidada. Citou também a necessidade de se debater sobre o acesso à educação pelas pessoas trans e a relação entre o modelo de educação vigente e a transfobia.
Leonardo Peçanha, professor, pesquisador e ativista, especialista em gênero e sexualidade, mestre em Ciências da Atividade Física, membro do Fonatrans, Liga Transmasculina Carioca e do Projeto Luto do Homem, falou sobre os desafios da saúde trans masculina. A diversidade dos corpos trans, suas ressignificações e a maneira subjetiva como cada um lida com seu corpo foram alguns pontos destacados. “Temos que pensar em uma saúde que contemple todas as pessoas, com suas especificidades corporais, mas que não normatize de maneira a restringir atendimento à saúde de qualidade”. A dificuldade de acesso às políticas de saúde pela população trans prejudica o atendimento de saúde de qualidade e de forma integral.
Na sequência do Seminário, Maria Luísa Garcia Gelatti, vice-presidenta do Conselho Estadual LGBT do RS, integrante da coordenação do movimento Girassol - Amigos na Diversidade de São Borja. Como mulher transexual, militante, ativista pelas causas Lgbtqia+ e trabalhadora do ambulatório Lgbtqia+ de São Borja, trouxe sua vivência na fiscalização de políticas públicas para essa população. “Muitas pessoas buscam o ambulatório e não retornam. Por isso, o acolhimento é muito importante. Os profissionais da Saúde precisam entender o que é ser travesti, o que é ser uma pessoa trans e acolher”. Perguntar como a pessoa se identifica, usar o artigo certo são iniciativas simples, mas importantes para essa população se sentir acolhida. O histórico de luta iniciado pelas travestis e a crescente ocupação de espaços, incluindo lugares de poder, são aspectos importantes na busca pela garantia de direitos. “A Saúde nos exclui e nos mata. Precisamos fiscalizar e cobrar do Governo saúde de qualidade”.
“Precisamos pensar e nos implicar como assumimos o enfrentamento dessa realidade. É um trabalho de força e de resistência”, destacou Cristina no encerramento do primeiro dia de Seminário.