A desinstitucionalização de nossas práticas e a luta por mudanças de pensamento são algumas questões defendidas há mais de 30 anos pela luta antimanicomial e que ganham destaque, agora, no atual contexto de pandemia da Covid-19 e que foram abordadas na live CRPRS Convida com o tema "Se o isolamento faz sofrer, imagina se ele nunca acabasse?", realizada na segunda-feira, 25/05, pelo Facebook do Conselho.
Mediada pela psicóloga Sandra Fagundes (CRP 07/01644), psicanalista e sanitarista, professora convidada da Maestría en Salud Mental – Universidad Nacional de Córdoba - Argentina e da Residência Integrada de Saúde Mental Coletiva da UFRGS, a live contou com a participação de psicólogas, das regiões Serra, Sul e Centro-Oeste do estado, relatando os desafios impostos pela pandemia para o seu exercício profissional no SUS e no SUAS.
Gabriela Lanzetta Haack (CRP 07/08126), psicóloga na Secretaria Municipal de Saúde de Pelotas e membra do Fórum Estadual de Redução de Danos, ressaltou o impacto da pandemia no cotidiano de todas/os. “Tivemos que repensar práticas e reorganizar o trabalho diante desse contexto de proteção, cuidado e isolamento social. Reinventar as possibilidades de cuidado, considerando características de cada usuário, cada território e possibilidades de cada equipe”. O desafio de pensar o cuidado em liberdade à distância, pelo telefone ou pela internet; priorizar plantões de atendimento para situações de crise; ampliar estratégias de acolhimento no CAPS; estudar o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) foram algumas estratégias adotadas em Pelotas. “A necessidade de se repensar 'como fazer' gerou muita insegurança e angústia. Mas vimos uma grande mobilização interna e uma enorme capacidade de resiliência da equipe na busca de novas possibilidades”. Ações simples como levar água, sabão e máscaras para o atendimento das populações mais vulnerabilizadas foram alguns exemplos citados por Gabriela.
Para a psicóloga Tatiane Baggio (CRP 07/19487), que atua no SUS e no SUAS em Bento Gonçalves, o atual contexto político, além da pandemia, também traz desafios para o movimento da luta antimanicomial. “O discurso de um governo antidemocrático não ajuda na caminhada do movimento que vem enfrentando muitos retrocessos. Precisamos usar a criatividade e o conhecimento que a Saúde Mental nos traz para reinventar nossa prática de cuidado, reformular estratégias e não deixar vínculos se perderem”. A criação de espaços de escuta para as/os profissionais da saúde que estão na linha de frente e a mobilização comunitária foram destacados por Tatiane. “Tivemos que rever conceitos de isolamento e liberdade. O isolamento sempre foi visto como algo que não era bom, excludente. Hoje, falamos de um isolamento necessário, como uma prática de cuidado”.
Atuando no NASF de Alegrete, a psicóloga Judete Ferrari (CRP 07/04168), coordenadora da Parada Gaúcha do Orgulho Louco/RS, falou sobre os desafios de estar próximo ao outro em um contexto de isolamento. “O confinamento mudou o modo de se viver em casa e como nos relacionamos. Precisamos pensar como construir saúde a partir do lar e superar a dificuldade de compartilhar espaços”. Judete lembrou a fala de usuários que viveram por anos em manicômios e que, ao falar do seu isolamento, relatavam a saudade da casa e da família, em um cenário de solidão e desapropriação de identidades. “Hoje o povo brasileiro experimenta essa sensação de confinamento eterno”. Judete também ressaltou a valorização do saber da Psicologia, como ciência e profissão, nas equipes diante da pandemia.
O debate também abordou a necessidade de fortalecimento do SUS, como politica pública para acolher as pessoas, e os novos desafios da Psicologia, como aprender sobre biossegurança e sobre as condições de trabalho nessa nova realidade.
-> Saiba mais sobre a campanha do CRPRS pelo Dia da Luta Antimanicomial
Assista à live na íntegra: