Na terça-feira, 10/11, o CRPRS realizou o 1º Seminário do Núcleo de Relações Raciais, em Porto Alegre. O evento teve como objetivo discutir com psicólogos/as e estudantes de Psicologia as relações raciais.
As conselheiras Ana Paula Ferraz, presidente da Comissão de Direitos Humanos, e Zuleika Gonzales abriram o evento, junto com as psicólogas Eliana Xavier, coordenadora do Núcleo de Relações Raciais, e Gláucia Fontoura, colaboradora do Núcleo. Em suas falas, trouxeram a importância da luta e da construção que levaram à consolidação do Núcleo, assim como do debate que estava sendo pautado. Eliana comentou sobre a presença do racismo no processo de construção da subjetividade da população negra, a partir do que a vivência da discriminação os faz sofrer. "Nossa proposta é estar pensando junto com psicólogas e psicólogos esse processo, para que, onde quer que estejamos, seja na clínica ou em qualquer política pública, na saúde, na assistência, na educação, possamos escutar essas experiências como constituidoras desse sujeito", afirma.
Foi apresentada a campanha “O racismo tem dessas coisas”, em que mulheres negras e homens negros são convidadas e convidados a narrar suas histórias de violência, de humilhação, das desigualdades sociais/raciais, da fragilidade na garantia dos direitos e da destituição de poder da população negra. Os depoimentos serão recebidos online pelo formulário em crprs.org.br/oracismotemdessascoisas, e a proposta é a de que eles se tornem instrumentos essenciais para a construção e problematização de uma escuta qualificada das dimensões do racismo, para possibilitar a superação por meio da construção de novos sentidos para as vivências sofridas. Os relatos serão analisados pelo Núcleo de Relações Raciais do CRPRS e selecionados para publicação em nosso site e nas redes sociais do CRPRS.
No momento seguinte, foram convidados/as a realizar suas falas a psicóloga Maria Lúcia Silva e o psicólogo Emiliano de Camargo David. Maria Lúcia trouxe a questão de que o racismo opera na cultura, sendo que desse modo ele está presente em todas as instituições sociais. Conforme a psicóloga, “o racismo é violência, e causa não somente sofrimento psíquico como adoecimento”. De acordo com Maria Lúcia, ele parte da instituição do medo e nega que a pessoa tenha uma história, a partir da apropriação das manifestações culturais de origem negra, que passam a ser apresentadas como brasileiras. A naturalização do que é construído historicamente, os estereótipos e a forma como se constitui a subjetividade a partir do atravessamento do racismo foram outros pontos levantados pela psicóloga, salientando que ele produz sofrimentos psíquicos difusos e em um processo de invisibilidade do que é sentido pelo sujeito.
A fala do psicólogo Emiliano de Camargo David partiu de um lugar de prática, apresentando o racismo como um processo de dominação e de poder. Conforme o psicólogo, “o racismo à brasileira culpabiliza a vítima”. De acordo com Emiliano, na sociedade vão sendo mantidos valores estigmatizados superiores para uma raça e inferiores para outra, e muitas questões são vistas quando a estratégia de atendimento é movida para o território. O psicólogo também salientou que, para a população negra, o manicômio é reinventado intersetorialmente, como no que se refere à internação compulsória.