O CRPRS recebeu em sua sede na quinta-feira, 18/04, o coordenador da Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia, Pedro Paulo Bicalho que falou sobre “Ditadura e Democracia – Qual o papel da violência de Estado?”. O evento, promovido pela Comissão de Direitos Humanos do CRPRS, propôs a discussão de implicações da violência de Estado no contemporâneo.
“Conceitos que justificam ações na época da ditadura, como o preceito ‘com Deus, pela família e pela liberdade’, ainda são utilizados nos dias de hoje para justificar ações do contemporâneo. O Brasil ainda precisa prestar contas do passado e por que não do presente?”, questionou.
Bicalho lembrou que a ditadura vivida pelo Brasil se diferencia dos regimes adotados em outros países da América Latina, que possuíam a figura do ditador, um militar que permaneceu no poder por anos. “Aqui, a ditadura tinha aparência de democracia. Até que ponto isso não é algo ainda presente?”, instigou.
No Brasil, a ditadura foi operacionalizada pelos atos institucionais, pela lógica de inimigos internos e pela doutrina da segurança nacional. “Hoje seguimos esses mesmos preceitos em lógicas contemporâneas. A produção do medo como operacionalizador político é ainda uma realidade. O que mudou foi apenas o foco. No passado, o medo era dos subversivos, dos comunistas. Hoje, tememos as ditas ‘classes perigosas’, aqueles a quem devem ser dirigidas as políticas penais deste país. Precisamos refletir sobre quem são os comunistas atuais? De quem todos nós temos medo?”, afirmou.
A preparação para os grandes eventos, como Copa do Mundo e Olimpíadas, fomenta uma política que segue a mesma lógica de exílio, do conceito ‘Brasil: ame-o ou deixe-o’. “Esse raciocínio faz com que certas classes da sociedade sejam entendidas como lixo e, como tal, devem ser banidas das cidades, o que podemos perceber em políticas higienistas praticadas por certos governos. Extermínios de modos de existências são extermínios como qualquer outro”, declarou Bicalho.
O que os psicólogos tem a ver com tudo isso? Para Bicalho o grande desafio da profissão é estranhar essa produção de medo, que, apesar de ter um recorte histórico na ditadura militar, persiste nos dias de hoje. “É importante para pensarmos de que modo o nosso medo e o nosso lixo contemporâneo são entendidos, e de que modo as políticas públicas existem para dar conta de tudo isso. Entender a lógica que faz funcionar essa construção, para que possamos entender o que de fato estava em jogo naquele período histórico que hoje chamamos de ditadura, mas principalmente, a lógica que está em jogo neste período histórico que vivemos hoje”.
Durante o evento, Pedro Paulo Bicalho anunciou que o Conselho Federal de Psicologia fará o lançamento do livro “A Verdade é Revolucionária – Testemunhos de psicólogas e psicólogos sobre a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985)” durante o Congresso Nacional da Psicologia, que acontece de 30 de maio a 2 de junho, em Brasília. A obra reúne depoimentos de psicólogos de todo o Brasil que vivenciaram a ditadura.