Em 24/07 foi realizado o evento "Pedestre: urbanismo, mídia e cidadania", no auditório da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (FAMURS). O encontro, promovido pela Comissão de Psicologia do Trânsito e Mobilidade Humana do CRPRS, juntamente com o DETRAN/RS, Movimento Gaúcho Pelo Trânsito Seguro (MGTS), FAMURS, EPTC, IDETRAN, Polícia Rodoviária Federal, Ande Bem e IARGS, reuniu profissionais de diferentes áreas para discutir sobre a situação do pedestre e alternativas para circulação, abordando temas como educação, mídia e planejamento urbano.
A atividade iniciou com a mesa "Planejamento urbano: onde fica o pedestre?", em que o agente de trânsito e coordenador da Assessoria de Educação para o Trânsito da EPTC Juranês de Castro Júnior trouxe a questão de que nossa cultura não foi desenvolvida para os pedestres, visto que o planejamento urbano sempre privilegiou os veículos. Castro Júnior destacou que o pedestre é um ator frágil, porém muito importante no trânsito, e que passou a ser considerado de forma mais efetiva a partir do Código Brasileiro de Trânsito de 1998. "Ainda se verifica uma situação de hierarquização dos atores do trânsito, e isso ocorre no mundo todo", disse. Para que ocorra uma redução no número de vítimas, o agente afirma que o trabalho de educação para o trânsito deve ser permanente, pois apenas ações pontuais não geram efeito.
Na fala seguinte, Carlos Félix, professor da UFSM com experiência na área de engenharia de transportes, abordou o fato dos países terem se urbanizado e se desenvolvido sem a estrutura adequada. Félix também salientou a questão da visão ainda presente na sociedade de consumo de que ter um carro é ser bem-sucedido. Outro ponto mencionado foi o fato de que as pessoas desperdiçam o tempo de suas vidas em deslocamentos demorados de trânsito. Em relação a ocorrências de trânsito, Félix afirmou que a maior parte das vítimas são pedestres, e existe uma situação de isolamento por conta do privilégio aos veículos. "É preciso construir estruturas que propiciem o deslocamento a pé. Pedestres estão entre os atributos de uma cidade considerada um bom lugar para viver", disse.
O painel "Como a mídia pode auxiliar na promoção da segurança do pedestre", teve a participação de Eunice Gruman, assessora de Comunicação Social do DETRAN/RS, que apresentou o projeto "Década de Ação no Trânsito", desenvolvido a partir da estimativa de vítimas em dez anos, com o delineamento de estratégias preventivas. "O pedestre é o primeiro, o mais representativo, o menos visível e o mais vulnerável dos modais", disse. Conforme Eunice, a comunicação deve ser interinstitucional, pois as pessoas são mais influenciadas quanto o mesmo conceito lhes chega de diferentes fontes, e a comunicação deve ser direcionada para todos. "A mídia pode influenciar direcionada aos diferentes públicos, atuando nas esferas emocional e racional", afirmou.
Na continuidade do painel, Felipe Daroit, repórter de mobilidade urbana da Rádio Gaúcha, iniciou afirmando: "o trânsito é o pedestre". Segundo o jornalista, existe uma inversão de valores, pois o governo não valoriza o pedestre e este se sente intimidado pelos veículos. Daroit também trouxe questionamentos sobre planejamento urbano, que não prioriza o pedestre, o que acaba fazendo com que o número de atropelamentos seja expressivo. O repórter salientou também a importância da educação para o trânsito em diferentes formas e níveis, da fiscalização por conta dos órgãos e também a função da mídia, em termos educativos e de cobrança de ações do governo que qualifiquem o trânsito. "As pessoas não gostam de fiscalização ou de pagar multa, mas quando perdem um familiar ou um amigo em um acidente, vão às ruas pedir por fiscalização e justiça", disse.
Natalia Walter, professora da UFPEL na área de tecnologia em transporte terrestre, iniciou sua fala na mesa"Comportamento e cidadania" dizendo que as políticas públicas de trânsito devem considerar as condições desiguais de mobilidade, pois o trânsito produz e reproduz a desigualdade social e os conflitos que ocorrem quando os indivíduos estabelecem relações sociais. De acordo com Natalia, "É necessário um trabalho de educação para o trânsito, objetivando problematizar a forma de ocupação do espaço público e promovendo uma mudança nas representações sociais construídas sobre o trânsito".
A seguir, em sua fala, Adriane Machado, psicóloga e diretora da Qualità Avaliações Psicológicas e Treinamentos, disse: "Qualquer ser humano é mais importante do que qualquer máquina." Para a psicóloga, o trânsito é uma disputa pelo espaço físico, e é necessário recuperar o humanismo, na forma de respeito, solidariedade e tolerância. Assim, programas de educação para o trânsito devem trazer estratégias para que as pessoas obedeçam sem a presença da autoridade, promovendo valores e cidadania, e extinguindo a impunidade.
Na continuidade da mesa, Iara Thielen, professora da UFPR e coordenadora do Núcleo de Psicologia do Trânsito da mesma universidade, apresentou o projeto Transformando o Trânsito, por meio do qual jogos educativos sobre trânsito para adolescentes promove uma conscientização visando a construir a noção do coletivo além do individual, a percepção de risco e a reflexão, com o objetivo de repercutir no comportamento desses atores no trânsito, inclusive futuramente como condutores. Iara trouxe o fato de que para o público o risco de conduzir parece familiar e controlável. "Quanto mais seguro o condutor se sente, mais se arrisca", disse, e isso se deve tanto ao tempo de experiência conduzindo, seja por condições favoráveis de trânsito, entre outros aspectos.
Ao final, foi aberto espaço para perguntas do público, que trouxeram questões e relatos sobre trânsito para os painelistas, e foi realizado o debate.
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